Um dia denso, esse 30 de janeiro de 2014. Relia esses dias o grande Rilke, talvez pressentindo os toques do invisível. Nós diante dessa temporalidade que nos ajuda a entender que a vida é feita de chegadas e de partidas. Estamos mais acostumados às chegadas, mas diante das partidas manifesta-se toda nossa fragilidade. Mas a vida é assim: há os lindos momentos festivos, de êxtase e de vitalidade que encantam e de comunhão que irradia; mas há também a dura constatação de que aquilo que é nosso “flutua e desaparece”. Não há como escapar dessa “fluidez”diante da qual todos prestaremos contas. Apesar de toda dificuldade, creio que temos que aprender também a nos alegrar com as partidas, sobretudo com aquelas que traduzem uma vida de honestidade, de santidade, de beleza e transparência. É assim que vejo esse amigo querido, esse orientador singular, esse santo na exemplaridade: João Batista Libânio. Quero deixar sua presença bem viva junto a mim, sua alegria solar e sua fé contagiante. Esses valores ficam, e vencem a frágil fluidez. Rûmî, dentre meus místicos mais queridos, foi alguém que conseguiu lidar com a morte de forma mais doce e mais serena. E ele me vem agora à lembrança:
“Finalmente partiste para o invisível.
Estranho rumo seguiste para deixar este mundo.
A força de tuas asas rompeu a gaiola,
ganhastes os ares e voastes para o mundo da alma.
Eras o falcão favorito do rei
nas mãos de alguma anciã,
mas ao ouvir o tambor
escapaste para o não-lugar.
Era um rouxinol entre corujas
mas a fragrância das rosas te envolveu
e correste para o jardim (...)
Silêncio.
Liberta-te da dor da fala.
Não durmas, agora que encontraste abrigo
Junto ao amigo querido.”
Quem quiser conhecer mais sobre o Libânio e suas realizações na teologia brasileira, veja a entrevista de Faustino em
[Eymard Vasconcelos escreve na Rua Balsa das 10 às 5as-feiras]
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