“Quem sorve o chá é a alma”
O cuidado pode se manifestar em uma de uma forma sutil. No chá feito em casa. Um chá que independente do conteúdo tem essa habilidade de acalentar o coração. De esquentar quem está tomando, de adoçar um dia amargo, de amargar uma tarde doce, lembrar o gosto de casa, cheirar o conforto.
O ato de fazer o chá para si ou para os outros é uma forma de cuidado. Chá para os amigos ou para a família. Chá de boldo, erva-de-são-joão, maça, camomila, hibisco, guaco, hortelã, espinheira santa, catinga-de-mulata, sálvia, funcho, laranjeira, anis estrelado, canela, erva-doce, cavalinha, romã, chapéu-de-couro, sene, marcela, endro, verde, preto, melissa, frutas vermelhas, menta, quebra-pedra, alho...
Para uma receita simples de casca de laranja, gengibre e mel, escutei: lembra a casa da minha avó. Ou como os irlandeses que param várias vezes do dia no seu trabalho para a preciosa hora do chá, um fôlego, uma conversa entre o barulho da colher tiritando na xícara.
Também o chá sulista do chimarrão para esquentar a saudades. Ou o simples bater na porta trazendo uma xícara para acalmar o dia antes de dormir. Ainda o cuidado no mel para emprestar. Ou as lágrimas que se perdem na xícara enquanto se faz um chá para cuidar do coração triste.
O poder chá não está apenas na propriedade das plantas, mas nessa habilidade humana de cuidar, de ferver a água, escolher o chá, e sorver a bebida enquanto esquenta as mãos ao redor da xícara.
Voam abraços,
Mayara Floss
[Mayara Floss publica na Rua Balsa das 10 às 4as-feiras]
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