15 dezembro 2014

Moisés, Luis e surpreender-se assim assim dos acasos [Julio Alberto Wong Un

Para Renata e para Amelia. Para Eymard e para Ernande. Para Darlle e para Luciana. Para Marcia e para Vera Joana. Para Irai, Ingrid, Larissa e todos. Para Osvaldo e o Apanhador dos Sonhos. Para Aldenildo e os palhaços. Para os dias bons em João Pessoa 





1. O mar abre o peito coral. E Moisés acende as águas com seu báculo e destina um final de tempo com a flauta de cana. 

Eu dizia que acreditava em fortes verdades:

Que disco voador não pousa duas vezes no mesmo ombro de passarinho.
Estrada nova nunca leva a três lugares simultâneos, e que
O beijo da moça iria durar o tempo dele e não dela. Mas ela... (ah, a moça)

Mas o desejo o transforma (ah, o beijo) em tempo suspenso.
O infinito está em mim, as cascas das árvores viram livros e papéis inesperados
Dizer que uma porta ou uma mesa nos espera é coisa boba
Abrir o olho na distração dos sotaques é pecado perdoado ao perdido, ao renascido, ao pequeno.
Sim, perco o destino dos velhos ônibus cansados; sim
Farei de mim aquele que percorre e abre as peles. Farei de mim um pequeno verme impertinente. 

E
Assim
Ou assado em dia de calor com pele oculta e vermelha 
Serei o escondido, aquele que se lança ao espetáculo, aquele surpreso com os presentes invisíveis
Que já estavam lá, esperando ser e não ser, destinar e endereçar, cobrir as luas de estantes
Acorrentar o redondo da lua no sopro do mar quase africano.

Será que ao transpor lugares misturados de pizza massas mar e dois garotos sem idade
Que assomam a cabeça de índio de marés dos Andes, rios Esmeralda impossíveis, azuis d'Angola,
Eu serei o que ele era? Aquilo tocando duas estrelas de mar que saíram de Lima para se encontrar 20 anos depois?

Sei não. Sei sei. 

Me dizer que somos aquilo que sonhamos é óbvio. Na troca equilibrista das risadas,
Na lembrança imediata do tempo em que fomos músicos, na escuta festiva do dizer dos amores,
Nas trocas novas que nunca serão perdidas - uma mão que desliza tempo e amanhecer
Para que não passe, para que seja prece, para que vivamos sempre no verde calmo deste mar

Os estares são todos um.  Somos esos chicos de ojos grandes que tocaban sus instrumentos
Practicaban sus lunes y sus viernes y ensayaban a si mismos como si fuera siempre el tiempo de la canción. 

Y con eso venían los caminos e sus destinos mutantes. Y con eso nos perseguían ciertos amores centinelas, descubrimientos de nuevos sonidos, formas furtivas de besarse.

Encontrei o Moisés como um descuido meu. Mas ele estava lá. E as meninas o mostraram. Com seu sotaque tão distinto é tão próximo do meu. Com seu compartilhar discreto. 

.......

O Moisés ficou assim, pensativo, quando fui embora, nas nostalgias crianças. Foi destinado a mim um sorriso de portal de tempo. E um dizer de futuro.
Uma promessa um cartão e saber-se quase destinado a encontrar-se. 

Encontrar-se. Como fazemos sempre que o por acaso nos empurra à esquerda ou à direita. A ficar embevecido ou a mexer o mindinho e tocar de leve outra mão. Destino outro, escolha banal, reinvenção de mundos.

O menino da cidade imperial e dos campos de São João de Lurigancho riu e pensou e trouxe o tempo como pião ou escada a terceiros andares.  Y yo me fui quedando en mis propios recuerdos, mareado de tiendas, comensales, y seres raros que hablan el portugués. 

El día siguió con sus calles, sus soles, sus brisas de final de continente, de casi comienzo del África. Los tres queridos que en ese día éramos descubridores, convertidos e entregados, volvimos a las veredas esperadas, pero yo pensaba quietamente, como un poeta abriendo el "Sonetos de Shakespeare" por vez primera: qué será lo que tiene el mundo?

"Sopro e cheiro de mar", respondemos juntos. Sal na pele e voz amante ao ouvido. 

A promessa, sei eu, é o que ficou. Deep in the heart. Forever two young compadres. 

Hermano Moisés. Tu crees en dios ?. me dirías. Yo la verdad no mucho, retrucaría veloz. Pero a cada cierto tiempo el compadre Taita Dios  me hace ese tipo de chistes. Que se le hace? Habrá que reírse con él nomás. 


2. O mar abre o peito laranja/camarão. E o Luis me abraça Latino e reencontrado

Digo que reencontrei o Luis porque acho que eu o sonhei antes. Trinta anos antes. 1984. Ou talvez ele me ajudou a subir em algum ônibus de fronteira nos anos 80 antes de virmos os dois por separado ao continente brasileiro - cego / surdo / e mudo para tudo aquilo que o circunda na América Latina. E também nos encontramos nos comeres de camarão que foi João Pessoa. 

Eu vim e gostei daqui, ele nos contava, com seus mitos de hombre del Sur del Sur Sur, porque eso es el final sur de Chile, con sus bosques prehistóricos de árboles gigantes, de calladas madrugadas hasta que los pájaros invaden la humedad austral de Chile. Eu morreria aqui, disse ele. Eu moraria aqui, dissemos os dois.

Yo le dije, en perfecto portuñol: usted me diría Luis donde nació Neruda? Porque no me acuerdo. Donde habrá nacido me dijo. En el sur. Valparaíso? Más al sur. No me acuerdo ni quien es ese Neruda. Poeta no? Salí muy joven y poco he regresado. Todo en Chile es sur.

Oh tiempo escrito en Temuco, donde el fin del continente se afina y se retrae
Oh cuerpo perfecto de musgo y madera que se pudre para nacer de ella la vida por lado todo.
Oh amada de madera. Tus ojos son araucarias nodosas que transform en besos largos.
La estrella primera del frío es tu distancia, cuando no estas conmigo
Oh mujer de polos y cercanías, desnuda me apareces como el cuerpo que me inventa
Como el final de los valles que me llama. Como la risa de los pájaros cuando la lluvia es buena.

Assim eu fui brincando de Neruda e ria sozinho, no meio dos camarões e das cebolas,  tudo a ver com o glutão de Temuco. Mas era hora das partidas. E eu já andava com o peito esburacado de ausências iminentes, de despertares azuis quando queria as cores do cheiro e os aromas dos barros da fronteira. E eu disse tchau.  Tchau seu Luis do Sul do Chile. 

Yo lo busco de nuevo Don Luis que fue gerente y ahora no puede ir así tan fácil a la propia tierra, al final del tiempo que son los bosques de araucarias. 

Os pulos quânticos são corriqueiros. A surpresa pula quântica e balsâmica.

Digo que termino porque apenas começo. I say love songs in the sunset, pedra de responsa.



Nota: explicação de poema: explicação estraga tudo, em especial poema. mas só dizer que isto aqui nasceu de 2 encontros com um peruano e um chileno em restaurantes de João Pessoa. Em Dezembro de 2014.







[Julio Alberto Wong Un escreve na Balsa das 10 às segundas]











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