TIJUBINA
Decide a hora dos acontecimentos
conforme a importância que dá. Recria o dia. Adia a madrugada. Antecipa o verão
e deixa o inverno para depois, bem depois...
Criador de universos. Comandante
de nascer de sóis. Não faz pacto com a realidade, com o óbvio, com o que todos
entendem.
A ideia é não prescrever a
verdade, não ter compromisso com a hora, a história e a geografia. Tempo é
instante.
Assim, os momentos viram
cambalhotas e o futuro vem primeiro que o presente e o passado fica lá na
frente, bem na frente...
Também constrói montanhas,
planícies, rios e até movimentos dos ventos e da terra: ondas, ventanias e
terremotos.
Tudo misturado à ânsia de seguir
em colorido êxtase onde mal sente dor, mal sente fome, frio, medo, náusea. Mas
sente tudo ao mesmo tempo em redemoinho na chuva.
Por vezes, mal sente o corpo, a
pele, os cabelos longos e os olhos que buscam, ainda, algum encontro, algum
brilho, algum cais distante, bem distante...
Por essa busca, por essa
ausência, por essa solidão é que canta canções e faz declarações de amor. Prega
a Palavra aos berros. Discute com o vento, com o verbo, com o mar, com os sinais,
com a vida.
Chamam louco. Sentem pena. Sentem
medo. Acham graça. Para ele, importa mais o seguir sem cessar e parar em
surpresa, em segundos em que a lucidez chega como luz que assusta os olhos e inunda
a alma.
Mas, ainda bem, a razão foge rápida
como a sombra triste ao sol, antes que vire lugar de realidade e realidade para
Tijubina é esse lugar de mais-sofrer, bem mais sofrer...
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Obs.: Tijubina era um louco
andarilho de uma das cidades da minha infância. Mas poderia ser a junção de
todos os loucos andarilhos que conhecemos em seus mundos que desconhecemos.
Pensei nele e em todos vendo um homem jovem, negro, louco, lutando na chuva, na
beira do mar, com o mar, por horas a fio. Espero que ele tenha vencido...
(maria amelia mano publica na rua balsa das 10 às terças-feiras)
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