Maria Amélia Medeiros Mano
Inspirações:
João Guimarães Rosa – Grande sertão, veredas
Chico Buarque – Roda Viva
Ruas, histórias e pessoas das
Unidades Nossa Senhora Aparecida e Santíssima Trindade
Risco é rua.
Rua Zigomar Francisco Zanin, Rua da
Cultura...
Risco no mapa, rota, reta, torta,
rodopio, redemoinho.
“O diabo, na rua, no meio do
redemunho”.
Risco é santo, é rito, é reza:
Nossa Senhora Aparecida.
Pai, Filho e Espírito Santo:
Santíssima Trindade.
Senhor Jesus, Espírito Santo, Exu
Bará, Iemanjá.
Erva de benzer, erva de fumar,
erva de curar.
Risco é ter fé e não ter, crer e
duvidar.
Risco é pavio de vela, fogo e fio
de água, sede.
É falta de água. É muita água, é
mar e rio, barco e porto.
Porto Novo e Porto Velho.
Risco é Dique e ponte, muro e
casa.
Casa que vira muro que vira casa
que voa no ar.
Risco no céu. Antenas. Avião.
Risco é voar. Risco é não voar.
Não voar é morrer. Mas viver é
risco.
De morrer em vão, no vão da rua.
De se perder, de se achar, de se querer
e não querer na rua.
Risco é rua.
Rua Senhor do Bomfim e Avenida
Santíssima Trindade.
Risco é rumo, caminho de carro e
carroça, carrinho.
Risco é rastro, pegada, de
cavalo, cachorro e gente.
Gente que é risco e roda, roda
viva.
“Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião”
Risco é brincadeira, rima,
ciranda e canção.
Risco é cantar. Risco é não
cantar.
Não cantar é morrer. Mas viver é
risco.
De morrer de medo, tristeza,
raio, ruído, raiva, roleta russa.
Tiro, fogos de artifício, queda, culpa,
corpo no chão.
Risco é veia, artéria, sangue na
rua.
Risco é ternura, lágrima de mãe
na rua.
Risco é rua.
Rua do Povo, Rua Dona Beca.
Retirada, remoção, emoção,
retalho, remendo.
Renda, roupa no varal, riso,
horta e rugas no quintal.
Fenda, vento, fresta na tábua,
semente, semear.
Lenda, linha de costura, de
chegada de partida.
Linha de passe, de gol, de tempo,
de fuga.
Linha imaginária, de pobreza, de
ônibus, de trem.
Trilho, trilha, da mão, da vida,
cicatriz, marca, marcar.
Colorir, construir, sonhar,
olhar, amar.
Risco é amar. Risco é não amar.
Não amar é morrer. Mas viver é
risco.
De sofrer, ser, inteiro, avesso, direito,
calar e gritar.
Razão, loucura, prazer, acaso e
escolha, falhar.
Risco desenho, escrita de quem
não sabe ler.
Risco no quadro, no carro, na
parede, no chão.
Faixa de segurança, de esperança,
dança, criança.
Menino, menina, bola, boneca,
skate na rua.
Homem, mulher, velho, cachaça,
cambaleia na rua.
Risco é rua.
Rua Magistério e Avenida Dique
Rua é acesso, vereda, beco,
atalho e memória.
Descaminho, história, desenredo, enredo,
samba enredo.
Respeito, Repente, repinique, percussão,
calma e confusão.
Nota musical, louvor, brega, funk,
rap e carnaval.
Risco é dançar. Risco é não
dançar.
Não dançar é morrer. Mas viver é
risco.
De ser risco e limite, mito, meta,
metade, meio fio, por um fio.
Ser fronteira, separação,
superação, coragem, coração.
Linha que divide faces, perfil,
número, dado jogado na rua.
Linha que divide mundos, gentes, dias,
noites, guerra e paz.
Pedra e lama, asfalto e barro, fome
e feijão.
Risco que é passo, passagem,
imagem na rua.
Insana rua. Profana rua. Sagrada
rua.
Risco é rua.
Rua Bernardino Silveira Amorim.
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