22 dezembro 2015

GIRAFAS NA VARANDA


Maria Amélia Mano


Fiz a cama na varanda me deitei pensando em ti
Deu um vento na roseira ai meus cuidados
Que do sono me esqueci

Fiz a cama na varanda me esqueci do cobertor
Deu um vento na roseira ai meus cuidados
Me cobriu toda de flor

Dilu Melo - Ovidio_Chaves

                Musiquinha antiga que minha mãe canta. Faz parte da trilha sonora de músicas de ninar. Músicas que descobri pela voz dela e que vou descobrindo, de novo, com o tempo, pela voz dos intérpretes e/ou compositores.
                Também antiga a ideia das mulheres em grupos de artesanato. Antiga a mania de ter panos de prato bonitinhos, bordados ou pintados a mão, enfeitados com crochê. Coisa dos tempos de enxovais.  
                Dona Dorinha faz parte do grupo de artesanato da unidade de saúde. É pequenina, fala baixo, discreta, carinhosa. Em novembro, o grupo se esmerou em fazer girafas de jornal. Papelagem. Jornais e cola e fitas. No fim, mais de 20 girafas!
                Então, na pintura das girafas, uma tarde, me meti no grupo. Insisti que fizessem girafas diferentes. Que não seguissem as girafas tradicionais. Levei uma apresentação com exemplos de vacas, camelos, porcos, gatos pintados de outros jeitos.
                Algumas fizeram as mesmas girafas de sempre. Outras, fizeram girafas coloridas e diferentes. Prometi que bateria fotos das girafas com suas autoras e que iria presentear cada uma, como uma lembrança dessa construção no grupo.
                Assim fiz e assim cumpri! Uma semana depois da sessão de fotos com as girafas, imprimi e dei de presente, como o prometido. Foto de tamanho normal. Coisa simples. Fez sucesso. Arrancou sorrisos. Ficaram muito felizes.
                Uma semana depois, Dona Dorinha me “pega” na sala de espera. Um pacotinho na mão: “para a senhora, um agradecimento pelas fotos!”. Abro e vejo dois paninhos de prato, pintados a mão e enfeitados com crochê. Tudo feito por Dona Dorinha. Presente de natal.
                Ternura antiga. Cuidado e gratidão pelo simples. O simples da música antiga, dos versos que combinam sono, amor, vento, rosa e flor. Flor: as flores desenhadas e tecidas por Dona Dorinha. Amor: a eterna voz da minha mãe cantando.
                Feliz natal!
                https://www.youtube.com/watch?v=y92vR-9arCs

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que tem a dizer sobre essa postagem?

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog