Maria Amélia Mano
Ajeitadinha,
menina pequena, magrinha, negra, roupa de passear, sandálias de sair, cabelos
puxados e amarrados no alto. Saia rodada como as crianças não usam mais. Marias
chiquinhas cacheadas. Um e outro fio de molinha escapando do repuxado.
Arrumadinha,
atravessa a rua com a mãe. Mãos dadas. Mulher com roupa simples, formal, quase
singela, sem cor, sem enfeite, sem mostrar joelhos, ombros, colo. Provável
seguidora de alguma religião.
Engraçadinha,
no jeito de seguir, de sorrir, ainda solta, aos pulinhos. Deve ter muitas regras
e proibições. Mundo mais fechado, à parte, protegido, de “irmãos” de mesma fé.
Hinos, cantos, orações e pastores. Dias para guardar.
Prontinha,
curiosa, graciosa, elegante, pescoço fininho, a menina, olha assombrada o
movimento caótico da rua. Protegida, de certo. Resguardada, de certo. Que esse
mundo é perigoso mesmo. Ainda mais na cidade, no verão, em fevereiro.
Ordenadinha,
na humildade de um simples atravessar de rua, rápido, com a mãe que parece
contida e séria. E fico olhando, com o carinho de quem admira uma beleza
simples de tarde que passa como passo rápido. E paro, perco o sinal. Logo, elas
vão longe, longe...
Menininha,
que possas fazer escolhas felizes, que não te enchas de culpas, que não tenhas
tantos medos, dos pecados, dos demônios, da vida. Que possas usar um vestido
mais colorido e soltar teus cachinhos. Ainda serás muito linda. Mais linda,
até! Acredite!
Ilustração: Maragda Cuscuela Miret
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