Sangue no olho - fonte: google. |
Ernande Valentin do Prado
NA ATIVA
Colocaram todas as pessoas das filas, deitados
com a cara no chão. Gritaram bem alto:
- Só nos interessa o dinheiro do banqueiro filho-da-puta.
“Ninguém vai atirar em ninguém, mas por enquanto, todo mundo é refém”!
O vigia escondido, morador do Morro do Piolho, pai
de três filhos, por dois mil e quinhentos reais mensais, mais plano de saúde e
carteira assinada, resolveu reagir.
O resultado de sua ação, a família vai sentir
por toda vida.
DEUS NOS PROTEJA
Os PM são tão machos, com suas fardas imponentes,
coturnos engraxados, armas cheirando a pólvora.
Precisa ver como ficou a cara do bêbado insolente.
DOIS MINUTOS
O filho-da-puta, sorrindo, batendo de leve com a carteira
na porta do carro, disse:
- Posso multar ou tem acerto?
ALUCINAÇÃO
Ainda não tinha percebido nada, mas ela olhou com a
cara amarrada e disse:
- O que que essa biscate tá te olhando?
AINDA NÃO
Ela sorriu, mostrando todos os seus dentes, mas no
fim, não enganou ninguém.
QUASE NADA
- Oi!
- Quanto tempo?
- Já pensou...esse poderia ser nosso filho...
- É verdade...
- ...
- mas só se você não fosse uma filha-da-puta.
FARDA
Distraí-me lendo uma carta sob o balcão do bar do
Jorge, de costas para rua. Quando olhei para trás, dezenas de PM apontavam
armas para cabeça da molecada da vila.
- Enquadra todo mundo, Pereira, gritou o tenente
com cara de piá de bosta.
Os piás da vila já estava todos em pé, com as pernas abertas e as mãos levantadas contra a parede.
- Estão acostumados, pensei perplexo.
Os home xingaram, deram tapas nas caras, chutes nas
canelas. Retiraram carteiras dos bolsos e cheiraram, fizeram perguntas constrangedoras.
Depois, sem encontrar nada, o tenente de bosta disse:
- Obrigado pela colaboração, cidadãos. Isso foi para
sua própria segurança.
MAIS UM BOSTA
Eles disseram:
- Tudo que precisa fazer é entregar esses panfletos
na rua XV!
O nome no santinho, Luciano alguma coisa. Pensei,
sem dizer nada:
- Mais um bosta, que vai sumir depois das eleições.
Pior, que vai nos foder de todo jeito.
Mas agora, não tenho escolha.
MERDA
- Ele vai morrer hoje.
De
hoje não passa, vai morrer hoje.
- Um tiro na boca, outro no cu.
Morre
hoje. Filho-da-puta, lazarento.
- Vai morrer hoje. Depois vou jogar o corpo do puto
no lixão.
MERDA, PARTE SEGUNDA
São quatro horas, o dia ainda não começou a clarear. O caminhão de lixo vem
descendo a rua principal da vila. Na caçamba, jogado fora: um corpo furado de
bala e esmagado na paulada.
Lá na vila todo mundo
já tá se acostumando com os corpos jogados fora.
[Ernande
Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?