10 maio 2016

CHAMA DE AMOR [Maria Amélia Medeiros Mano]


Maria Amélia Mano


Para todas as mães de coração.



Depois que te encontrei uma estrela apareceu no meu teto
Meu coração se encheu de afeto

Depois que te conheci é como se não houvesse antes
O mundo é agora em diante

Não sei quanto tempo esperamos
Até que um dia enfim, você faz parte de mim

Chama de pai, chama de mãe, chama de filho, chama de irmão, chama de amor, aquilo que mora nesse coração, chama de amor.

Lula Queiroga

O Portão




                Não consigo imaginar tanto amor...

            Sabiam da história, de tudo o que havia passado quando gerada. Depois, a hospitalização prolongada, as convulsões. O remédio controlado. O abrigo. Nada importava! 

            Para mim, importava aquele olhar sem luz, olhar nublado de criança que pede em silêncio. Destoava do olhar da mãe, realizado, vitorioso, esperançoso, cheio de sol, cheio de palavras novas.

            A pequena mal se mexia. Sequela. A mulher era só movimento. Cheia de colo, cheia de mãos, cheia de carinhos, gesticulava o tempo todo. Animada. Falava dos avanços, dos olhares que aprendia a ver.

            Não sei quantos papéis, quantas receitas, quantas tentativas de fazer sorrir aqueles olhos. Olhos profundos que eu não entendia. Que eu perguntava, sem respostas. Ela não falava.






            Para a mãe do coração, havia um sorriso que eu não via, um afeto e uma esperteza que não conseguia achar. E, a cada dia, mais e mais desafios. Uma bota ortopédica, um carrinho especial, toxina botulínica para os espasmos...

            Ela ia crescendo. Veio a escola e mil e um atestados para instituição, para fisioterapia. Para andar, para brincar, uma órtese, para ver o mundo, óculos de lentes grossas... Tudo tão burocrático e tão difícil perto daquele olhar de mãe tão sereno!

            Mas um dia, e nem sei quanto tempo passou, poucos meses, porque a medida do tempo real é diferente da do tempo sentido. Mas parecia muito. E abri a porta da sala de espera e ela veio...

            De órtese, correndo pra mim, vestida de sorriso, braços abertos em abraço, pra me encontrar... Dizendo palavras mágicas com um olhar de sair faísca. Mãos acenando como pássaros voando!

            A mãe só olha, tranquila, sem surpresa, mas orgulhosa. E encontramos nossos olhares e nada falamos. Mas sei, ela me dizia: “eu sabia”, “eu te disse”. E brinco, e me surpreendo, e agradeço...

            Não consigo imaginar tanto amor...        




foto: Aline Brant, parecidinha com a menininha sapeca de hoje...


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