O título deste texto é frase/verso do escritor angolano Gonçalo Tavares (no livro Os velhos também querem viver, publicado aqui no Rio pela Editora Foz em 2014 e que descobri recentemente), com quem me sinto em sintonia a cada vez que o leio. O livro reconta, no mundo da guerra contemporânea, um drama de teatro grego clássico do Eurípedes onde um herói, a quem o Deus Apolo deve um favor, é ferido por um sniper no meio de Sarajevo. A bala aloja-se no cérebro. E somente o sacrifício de outra pessoa poderá fazer com que o deus Apolo o salve.
A bala aloja-se no meio da massa cinzenta do órgão mais vascularizado do corpo humano. Aquele onde células, tecidos e - acima de tudo - circuitos são o mais valioso, o instrumento delicado e hiper complexo da nossa "normalidade".
Para os normais o cérebro pouco se manifesta. Talvez na dor. Mas pensamos mais na "cabeça" e menos a esfera de massa cinzenta.
O não dizer do órgão é o sinal da paz. O seu silêncio.
Entretanto, quando ele começa a falar, murmurar e cochichar, vamu fazé barulho ai!! e se libertar, levantamos a sobrancelha. Ele, o invisível, está tocando tambor em nós. Ele, o cinzento, deixa de ser mago escuro e vira diabinho, arauto, músico que toca tambor, gênio da lámpada que tem seus próprios desejos. Um sol no final da estrada.
A casa mais casa está dentro de nós. E manda.
Eu que o diga.
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