01 novembro 2016

POIS SEJA O QUE VIER, VENHA O QUE VIER [ Maria Amélia Medeiros Mano]


Maria Amélia Mano

           Ouvi dizer ou li que erramos os erros certos. Talvez nem sejam erros. Sejam escolhas que não fizemos e que nos fazem, refazem, desfazem. Já desisti de entender e já aceito, sem muita revolta, os equívocos como presente possível. Como caminho que me escolheu e que sabe mais que eu. Às vezes ainda é difícil de admitir, mas o caminho sempre sabe mais que nós.

             E saio para o show do XIV Bis com Sá e Guarabira. Penso que é em teatro no shopping e resolvo passar em lojinha em promoção, antes. Meninas, mulheres que atendem cansadas. Conversas de fim de turno. Uma fez 40 anos e se sente melhor. A outra, fez 33 anos e se sente insegura. Vejo uma tristeza. Olho para ela e digo que está no auge, que pode tudo, que tem a maturidade e a beleza.

            Ela fala que aos 23 já era mãe. Que viveu crise no casamento. Que o marido fez “bobagem”. Que sofreu, mas viu que tem algo especial e que estava jogando tudo fora. Conta que “ele segurou” a crise. Então, apostaram um no outro e seguem juntos se redescobrindo. Reafirmo que está em tempo de ser quem quer ser, mais bonita, mais segura, mais “poderosa”, menos menina.

            Enquanto pago, falo dos arquétipos femininos que traduzem cada tempo. O tempo da sensualidade, da maternidade e da sabedoria e que tudo se mistura também. Conto que conservo amigas da adolescência e que vi o tempo fazê-las mais bonitas, cada dia mais. Que o tempo bom é esse que vivemos. Que logo teríamos lua cheia e que ela era nossa amiga. Energia feminina para nos dar cor, calor e coragem.

            Saio da loja com beijos e abraços, sorrisos sinceros onde vi até uma pontinha de brilho de lágrima no olhar. Sigo para o teatro e vejo que o show não é ali, mas em outro teatro, do outro lado da cidade! Pego táxi e chego para o começo do show, ainda com o sorriso de gratidão na memória a sensação de que minha desatenção, ou seja, meu erro, produziu algo de especial em uma noite comum...

            A primeira música é Canção da América. No meu grupo de WhatsApp do primeiro grau (sim, sou desse tempo...), uma conhecida de adolescência diz que está ansiosa, na maternidade. Vai ser avó pela primeira vez. Outras duas colegas que já são avós encorajam, tranquilizam. Falam do amor imenso. Lembro de uma das avós da turma. A que fui a festa de 15 anos. Amiga de primeiras descobertas e amores.

            No meio da música me emociono. Filmo uma parte e envio a imagem em que eles cantam: “qualquer dia amigo a gente vai se encontrar”. Digo que lembrei de todos nós e dos nossos tempos. No dia seguinte, pela manhã, lá está, no grupo, a foto da primeira netinha. Lembro da minha amiga, a outra avó, tão linda sempre. Ela continua de olhos brilhantes. Muitos de nós insistimos e persistimos. Ainda brilhamos.


            Passamos todos, todas, por tantas histórias nesses mais de 25 anos e ainda dividimos belezas. Aprendemos com os erros, especialmente os erros certos que nos mudam de rumo para fazer sorrir mais uma mulher e fazê-la mais bonita. E dividimos canções de encontro. Assim, para cada mulher que nasce, o desejo que viva intensamente seu tempo, que conserve o brilho no olhar de avó e de menina de 15 anos. Ambas se encontram, um dia, esperando a lua cheia.



https://www.youtube.com/watch?v=tCBnjO5vjoQ

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