Maria Amélia Mano
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Lenine
Um pouco de calma nessa hora.
Acordei às 4 da madrugada com alguém chorando. Parecia só soluço solitário de
mulher. Assalto, dor de amor ou seria só um excesso de caipirinha. Triste de
todo jeito e me reviro na cama, buscando posição. É cedo ainda. E é verão e fico na
dúvida se me cubro ou ligo o ventilador. Ou os dois. Desperto com o aperto do choro
desconhecido no peito. Acho que pode ser dia doido. Um pouco de loucura serve sempre. Não é ruim não. Vira história. Escrita de instinto, atirada, soprada.
Um pouco de cama nessa hora. Lençol que pesa. Suspiro
sem volta. Levanto sem jeito de dormir mais. O dia não está bonito, mas é
sábado e todo sábado é de sol, mesmo com chuva. Feirinha e café na rua. Mesinha debaixo
das árvores. Pássaros e crianças sorriem pra mim. Livros e berinjela que namoro, sem levar. Prometi um ano sem
excessos. Pêssegos, cebolinha, salsinha, suco de tangerina e um bolo de banana.
Isso vai. Vai um colar de corda e sementes. Descumpri promessa. Mas só um
pouco. Paciência.
Um pouco de mala nessa hora. Malas de quinquilharias. Artes. Admirar o
colorido dos artesãos. Os que se repetem e os que sempre me surpreendem. Rever os músicos de rua, os bons e os ruins. Ver
quem admiro de longe, triste, de olhar nublado. Não chego perto. Intimidade, só
um pouco. Quem sabe aquele choro soluçado da madrugada. Um aviso que ia
encontrar tristeza em olhar terno. Olhar que faz poesia e cria risada. Injustiça de
mundo. Isso devia ser proibido no sábado. Tempo breve.
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsaA vida é tão rara
Um pouco de lama nessa hora. Sinto
pena da tristeza e me afasto, sem saber se ajudo. Encontro amigos no caminho. Daí
a gente conversa dessa vida, do trabalho, dos vícios nossos, da poesia que
postei, desse tempo doido de desmontes, do verão e desses que insistem violências. E as vaidades e
corrupções. Coração pequeno. Pouco amor. Sim, isso também devia ser proibido no
sábado. Em todos. Conversa que revolta. Também devia ser proibido entristecer, ainda mais
as pessoas especiais. Vida rara.
Um pouco de hora nessa cama,
nessa mala, nessa calma, nessa lama, nessa alma. Um pouco. E caminho de volta
pra casa e para as escritas em atraso. Brinco com as teclas, perco o prumo e o
rumo. Esse já vai tarde. Bem tarde. E passo a tarde entre escolhas de palavras. Mas sinto
que me perdi no abraço que poderia ter dado. Lembro a conversa boa. Loucura que finge que é normal. É gasto com vaidade! É beleza sem apostas! É noite abafada e lua que aparece fumê, borrada, bonita. Lua
de sábado é sempre linda.
Um pouco de lua nua nesse
sábado de abraço adiado. Um pouco. Que muito é cansaço e o pouco sono é noite
que começa mais cedo. Acordada, rezo nada. Mas sonho sempre. Sonho me rendeu
mais que reza. Daí desisti de rezar. Mas o que vale pra fazer o bem é reza
mesmo. Dizem. Então, que meu sonho seja meio reza nesse fim de dia. Reza pequena,
pequenina, miniatura pra fazer rir a palhacinha triste que encontrei entre as
frutas. Um pouco de alma nessa hora. Na verdade, muita alma. Muita alma.
Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
https://www.youtube.com/watch?v=4GFtjl6Gsjk
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