25 fevereiro 2017

Do lugar onde crescemos [Julio Wong Un]


O mesmo 
O outro 
O mesmo prédio
O mesmo 401 e suas janelas de madeira 
Mesmas ideias de árvores
Mesmo vento de fim de tarde vindo do mar
O lugar onde se cresce 
Com suas humidades e luzes cinzas 
Seria uma maneira de dizer 
Ritornello 
Explicação de esperas e inventos 
Um deserto esclarecido de azuis
E neblinas impenetráveis 

Hoje andei este lugar que ninguém me rouba 
Mesmo que a burrice tola o exploda e o venda a preço de plátano
E somente tenho uma imagem e uma conversa irritante 

Está buscando algum prédio diz o Velho 
Não. Morei aqui. Cresci aqui. 
E que aconteceu?
Venderam para pagar dívidas de ex amor
De amor morto
De amor morrido a brigas raivas e silêncios
E aí? Foi para um lugar melhor? - perguntara e eu quase ignorando-o
Sim. Acho. Sempre. 
Descobri mil lugares melhores ...
E comecei andar 
Mora onde? Em Rio de Janeiro ....
Dai o estereótipo esperado :
Muito carnaval muito sexo muito comércio sexual 
Deixei o Velho falando sozinho 
Sabe nada saberá nada 
O preconceito evita que vire geleia ou suco 


E antes de me refugiar em lugar imbecil e lotado de consumidores falsamente alegres 
Eu vejo uma lembrança da infância: a Renovadora Eléctrica de Calzado

Y sorrio e lembro que andei percorrendo os prédios agora pouco pensando em sobrenomes de colegas 
Olivera
Macha
Fuster 
Valdivia 
Torres
Astete 
Valdeiglesias 
Lindler
Fernandez
Cada um morando em um prédio da minha infância

E isso me trouxe felicidade em um dia arido como suco de limão e sal 
Como centro comercial lotado. 

Atravessar o lugar me fez eu mesmo
40 anos há. 




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