Maria Amélia Mano
Aos 40 queria mochilar. Dar voltas pela América Latina. Era
criança ainda. Só que em uma noite, nem pensou que pudesse mais. Nem imaginou
que fosse capaz. E ele veio, no espanto, sem querer. Prazer de noite única. E
os dias, meses, que se seguiram foram inacreditáveis. Peito doendo, enchendo de
leite. Ventre aumentando, enchendo de gente. Adeus América.
Não se cuidou, não pensou. Fez queimadura na barriga, “sem
querer”, com caramelo quente. Quase adoeceu de descuido, de culpa, de medo, de
desplanejamento. Vida que prega peças. Mas, quando o menino veio, abriu todas as
portas que estavam cerradas. Chegou sorrindo e chorando. Coisa rara de ver.
Negro de olhos cor de céu verde-azul. Mágica do mundo.
Batizou. Colocou nome de madeira. Madeira nobre. Pra ele ser
forte e resistente. Porque assim foi quando gerado. Porque esteve dentro de
quem não dava conta de si. O nome deu certa redenção. Sem mais culpa, sem mais
certeza, ela só quer fazer canoa com a madeira que é nobre e viajar, viajar com
ele. Esse menino antigo de muitos anos e vidas. Menino velho filho de mãe com
alma criança. Menino que veio pra terminar uma aventura e começar outras.
Desde quando escuto histórias mágicas, não questiono se são
verdadeiras ou falsas. Apenas escuto e entro na história. Nessa noite, na
calçada, no verão, olhei os olhos do menino e tive certeza de que ele convidava
mesmo para viagens. Não uma jornada distante. Nenhum destino exótico. O que vi e o
que a mãe não se dava conta é de que ela já estava viajando nos olhos do
menino. O menino era a maior aventura. E estavam só começando.
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