11 abril 2017

PEQUENA HISTÓRIA AMIGA DE TEMPO E TERNURA [Maria Amélia Mano]


Maria Amélia Mano



Mal raia o dia
o relojoeiro se debruça
com sua lupa
sobre o coração dos relógios.

Com suas mãos delicadas
apalpa, escuta
o sono encantado do tempo.

Para ele os relógios estragados
são como pequenos pássaros
adormecidos.

Quando um relógio fica bom,
o relojoeiro suspira.
Roseana Murray (O Relojoeiro)


Dois velhinhos amigos se encontram. Um é relojoeiro. O outro quebrou o relógio. O primeiro se compromete em consertar. 

Passam meses. Após cobranças delicadas, o velhinho relojoeiro devolve o relógio para o dono. Mas não é o mesmo relógio. É outro. 

O velhinho do relógio reclama. O velhinho relojoeiro insiste que era aquele mesmo. E "está como novo", afirma. 

Para não denunciar a falha memória do amigo, o velhinho do relógio aceita, se conforma e concorda com o velhinho relojoeiro. 

Diz que o velhinho relojoeiro poderia se chatear em esquecer. Diz também, depois, em segredo, que apesar de gostar do antigo relógio, o relógio do relojoeiro é mesmo mais bonito que o anterior. Mais chique. 

Não se soube de reclamações do dono do relógio "quase novo". O que se sabe é que todos os clientes do relojoeiro velhinho eram velhinhos. E todos eram também amigos.

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