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Imagem capturada na internet, 2017. |
Ernande Valentin do
Prado
Ele entrou tentando se
passar por um comprador qualquer, num horário de grande movimento na loja, mas
não tanto que ela não o percebesse. Prometeu fazer isso, faz tempo: ela nunca
acreditou, agora fez.
De longe ela viu quando
ele se aproximou descendo a calçada, depois passou em frente, uma, duas vezes,
três vezes:
Não vai entrar, não vai entrar, não vai entrar. Meus Deus.
É ele, mas não vai entrar. Pensou, tentando não demonstrar
para ninguém sua ansiedade.
Então ele entrou. Fez
que se interessou por alguma coisa, olhou, interessou-se mais, ficou em dúvidas.
Ela foi até ele, tentando fingir que era apenas um comprador qualquer, como
qualquer outro. As pernas bambas, o coração disparado, imaginou que a face estava
vermelha. Perguntou:
- Posso ajudar?
- Quero ver uma calça...
Foi o que ele disse,
tentando não olhar diretamente em seu rosto, que devia estar mais vermelho que
um pimentão. Mas resistiu até onde pode, fingindo ser apenas mais um cliente,
para que as colegas, sempre tão interessadas em sua vida, não percebessem.
Para ter mais tempo, ela
pegou várias, de vários tamanhos, várias cores e fingiu mostrar cada uma,
atenciosamente. Ele fingiu interesse, mas depois de olhar, olhar muito, ouvir,
ouvir muito, apenas deu um beijo em seu rosto, assim, sem mais nem menos, um beijo
no rosto:
- Sinto muita sua
falta.
Disse e se foi.
Ela levou a mão ao
rosto, em cima do beijo. Pensou:
será que alguém viu?
Instintivamente olhou
para trás, para os lados, todas ocupadas.
Ele saiu, ela foi
atrás, ignorando clientes que tentavam chamar sua atenção, ficou olhando ele subir
à calçada, com a mão no rosto, pensando:
eu gosto dele. Sei
agora, eu gosto dele.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]
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