Para Amélia e Aderaldo
Escrevo isto desde dentro do avião.
O avião teima em chacoalhar.
Faz barulho em tons baixos. Como um instrumento de metais de orquestra sinfônica ou algo que o assemelhe.
Flutuando,
Como um pato no céu sem chão,
Lembro o quanto devo ao meu pai.
Assim como de alguma forma há muito de mim nas três mulheres mágicas que chamo filhas por não ter melhor palavra para jovens mestres da vida.
Há muito em mim dos meus pais. O pai que pouco conheci. A mãe que foi próxima enormemente.
O Pai para quem sempre terei perguntas sem resposta nesta vida ou na lucidez do estar desperto. Respostas somente no sonho.
Fome de viagens.
Agito doce dos transportes.
Chegares e ires
Ventos garoas tormentas
Camas genéricas de hotéis
Calçadas
Achados.
Mãos dadas em tempos novos sempre renovados.
Amor de deslocamento
Vontade íntima de descoberta
Experimento sonhado antes do que nascido.
Viajar - e, ainda, a música. Essa paixão desesperada e gozosa de todos nós: irmãos e filhos. As meninas dançantes cantantes musicófilas melómanas estreladas doces ventos e esperas sem espaço.
O som nascendo na alma.
A busca pelo acorde. Pela força na corda e na tecla.
Luz. Estrela. Som. Paisagem.
Neste dizer dizendo eu me reconheço naquele que mal conheci.
Sou tu como elas são eu, e eu sou a benção e o desafio e o limite. Fronteira.
Como um quadro simples de diabetes ou obesidade. Caso de livro. Caso típico interminável.
No fundo do som uma canção.
Na ponta dos pés um pulo.
Na borda dos dedos a música dos anjos.
No deixar de dizer a luz.
Na ponta preta da caneta luminosa o desenho nascendo.
No teclado impaciente o texto de dizer
emoção e
intuição.
Esperas de beijos que são sempre mais do que beijos.
Fomes de espaços e grandes aventuras
De exploradora
De jardineiro
De campo aberto e saber de plantas. De risada explodindo no instante.
Abraço assim. Em mim. Em todos estes de familia contidos.
Desço assim. O chão não é o meu lugar.
Mas me viro.
[ouvindo gnossienne # 3]
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