Maria Amélia Mano
Pedro
ama demais e fuma demais.
Faz
um ano e perguntei e ele só me disse: tô
fumando de nervoso! Sei que o cigarro acalma Pedro, Pedro que conheço e sempre
me ensina.
João
e José eram irmãos de pai morto de morte matada. João amava Pedro, que foi
travesti, mas Pedro amava José. E José também amava Pedro. Assim é que José e
Pedro ficaram juntos por anos até que o amor não terminou, mas deu lugar à
amizade de irmãos.
Pedro
ficou tempo sem paixões e adoeceu. Passou a tomar remédios para ser feliz e
para dormir. Passou a fazer exames e mais exames, pedir benefícios da
previdência. Passou a fumar cada vez mais e teve até uma pneumonia.
José
se apaixonou por Elisa que era jovem demais, mas queria arriscar. E arriscou.
Em uma dessas noites de amor e risco, Elisa engravidou. Jovem demais, pobre
demais, assustada demais, Elisa quis abortar. José não sabia o que fazer, não
se sentia pai, mas não queria filho sem pai como ele foi, não deixaria Elisa.
Pedro,
mesmo na fragilidade, via tudo, sentia. Acolheu os medos, falou com os pais de
Elisa, marcou o pré-natal, assumiu que seriam uma família. Vivem, então, na pequena
casa, agora: Pedro, José e Elisa. Apoiada, Elisa desistiu do aborto. Fez uma
ecografia e soube: é uma menina e vai se chamar Ana.
Pedro
se sente parte, um pouco pai, um pouco avô, talvez nem se interesse em saber o que
é, mas sentiu alma nova e, conforme a barriga de Elisa vai crescendo, Pedro vai se
enchendo de esperanças. Aos poucos, foi deixando os remédios de ser feliz e de
dormir. Desistiu de benefícios e perícias.
Pedro
se apaixonou por Paulo, vinte anos mais novo e segundo ele, muito menina. Nunca namorou assim, afeminado, sempre preferiu os mais
másculos. Mas quer um tempo diferente, um tempo leve de só namorar, sair, mãos
dadas, quer alegria tola, adiar coisas sérias, não ter planos.
Quer
se alimentar melhor e fazer exames para iniciar uma academia. Quer juventude,
saúde e vigor para amar Paulo e tempo, mais tempo e disposição para brincar com
Ana que está por vir. E é aí que sempre pergunto do cigarro e ele só me
responde: tô fumando de tranquilo!
Tá
bem, penso: fumava de nervoso, agora, de tranquilo. Ele sabe que perguntarei de novo
e que estarei sempre a espera, respeitando todos os tempos. Eu sei que Pedro
ama demais e fuma demais. Mas, está esperando Ana e é tudo sempre novo em uma
gestação. Quem sabe.
Quem
sabe se José incentivar, se a barriga de Elisa inspirar. Quem sabe, o novo amor, Paulo. Quem sabe quando a Ana nascer. Quem sabe. Família é
sempre uma grande e grata surpresa.
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