Maria Amélia Mano
Nossos
esforços, nossa atenção, nosso cuidado. Somos nós juntas, mesmo que por
minutos, mulheres em volta de uma mulher e seus desastres, suas tragédias.
Eva
tem 28 anos e é bonita. Vejo desde a sala de espera, o jeito desajeitado de se
sentar, de esperar: pernas abertas, pouca roupa, toda machucada, escoriações,
ferimento na perna, no rosto.
Logo
me chamam para ver o ferimento maior na canela: queimadura de cano de moto
infectada. Caiu da moto, mas não lembra como, lembra só que desmaiou. Não sabe dizer
se bebeu. Mas esteve em clínica de reabilitação, faz pouco, confessa, pela pedra.
Quando
vou prescrever o antibiótico, Eva me avisa que acha que está grávida. Digo que remédio não vai fazer mal. Pergunto onde mora e ela responde que não tem endereço fixo.
Está na casa de amigo que a ajudou quando machucada.
Eva
explica que o pai da criança é um senhor casado, 65 anos. Vai montar casa, mas não vai deixar família, mas pediu um tempo. Enquanto isso, fica na
casa desse amigo.
Combino
solicitar todos os exames e, quem sabe, acionar o serviço do consultório de rua
para acompanhá-la onde quer que fosse. Reforço a importância do pré-natal,
junto com as colegas que assistem Eva, naquele momento.
Eu
faço as receitas, os exames, os carimbos. A enfermeira dá as orientações sobre
o acompanhamento. A técnica faz os curativos. Eva presta atenção e sorri mais.
Cada vez mais.
Quando
saí, se despede e agradece: obrigada
mulheres!
Todas
nos olhamos no corredor, mulheres, sim, mulheres.
Ninguém
se deu conta, mas eu percebi, ali, por minutos, um pouco da irmandade que
somos, em silêncio, em cuidado, em agradecimento, em teimosa esperança.
Nossos esforços, nossa atenção, nossa acolhida, nossa escuta. Somos nós juntas, mesmo que por minutos, mulheres em volta de uma mulher e seus desastres, suas tragédias.
Nossos esforços, nossa atenção, nossa acolhida, nossa escuta. Somos nós juntas, mesmo que por minutos, mulheres em volta de uma mulher e seus desastres, suas tragédias.
Ilustração:
Ciaee Ching
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