20 julho 2018

VENDEU A PRAÇA


Histórias de motoristas de uber
Imagem capturada no Google, 2018.
Ernande Valentin do Prado


             — ...se eu chegasse em casa com um brinquedinho, minha mãe já perguntava: “onde foi que arrumou, foi Cleber quem deu?”
Disse o homem, enquanto cruzava a Avenida Senador Ruy Carneiro, sem olhar para traz.
 ...pegava o telefone e perguntava: “Dalva, Cleber deu um brinquedo para Claudio?”.
Conclui Claudio, saudosista de outros tempos, quando as crianças respeitavam os pais.
 Hoje? Hoje não tem mais respeito...
Claudio veio me buscar em casa para levar até o supermercado. Encostou seu Toyota Etios embaixo da sombra de uma árvore.
 Seu Ernande?
Ele dirige Uber há mais de um ano. Começou em dezembro de 2016. Era motorista de taxi, mas, segundo ele, quando viu o Uber chegar em Recife, vendeu sua praça, ainda por um preço bom em João Pessoa e passou a dirigir Uber.
 É uma corrida atrás da outra, não para. Se não fosse melhor que taxi eu votaria para praça.
Claudio disse que nunca, em toda sua vida de taxista, mudou um caminho para ganhar um centavo a mais, como muitos fazem. Disse que foi educado pelos pais...
 Pela mãe...
Pensou melhor, já quase chegando na Avenida Epitácio.

 ...quem educa os filhos mesmo é a mãe...

[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]



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