Aprendendo com a
morte e o seu silêncio.
Durante a Semana Santa, a força cultural do cristianismo tornou forte a
evocação da morte de Jesus nas nossas conversas, pensamentos e orações. A
morte. A morte de Jesus. De nossos amigos e parentes. A nossa própria morte.
A
morte é um professor duro. Mas um bom professor. Ela parece, a princípio, como
o grande inimigo - como sempre fazem os grandes professores. No entanto, quando
aprendemos com ela, torna-se nossa amiga.
Toda
tradição de sabedoria reconhece a importância de lembrar que vamos morrer e nos
lembra que resistir a isso, por mais compreensível que seja, é negar a
realidade.
Conviver
com a certeza da morte e com a incerteza de quando e como será torna a
contemplação inevitável. Caso contrário, construímos falsas certezas e
seguranças que roubam a vida de sua dignidade e alegria.
Como é estar morto? Os vivos nunca vão
poder saber com segurança. Vislumbramos, com algum grau de medo, que a vida de nosso
corpo não se subordina às nossas vontades, planos e desejos.
Nada é mais silencioso que a morte.
A morte não é apenas silenciosa, mas silenciar é morrer, para muitos de nós. Talvez, uma das poucas maneiras de aproximar
da experiência da morte é através do silêncio. O silêncio não diz nada. Não tem
mensagem além de si mesmo. O silêncio cresce em todas as dimensões da
realidade.
Para
os cristãos, o Sábado Santo é a festa da quietude universal no coração da
realidade. “Algo estranho está
acontecendo - há um grande silêncio na terra hoje, um grande silêncio e
quietude. Toda a terra mantém silêncio”. Quando nossa mente se abre
para aprender com isso, ela não se torna silenciosa.
Por
mais doloroso que seja o abismo da ausência, na morte, se abraçamos o silêncio,
aprendemos que nem a morte nem o silêncio são negação ou uma ausência de
significado. É o vazio que é, ao mesmo tempo, plenitude total: a pobreza de
espírito que nos torna cidadãos plenos.
O
corpo tem um milhão de coisas em operação ao mesmo tempo. A menos que estejamos
doentes, não somos e não precisamos estar conscientes de todos eles. Mas é mais
difícil meditar e fazer o trabalho do silêncio quando você tem dor de dente ou
nariz escorrendo.
Quase
tudo mais essencial, incluindo linguagem e imaginação, procede do silêncio.
Para viver e verdadeiramente buscar, precisamos retornar frequentemente ao
trabalho do silêncio até que ele se torne, como nossas operações biológicas, um
abençoado ritmo natural que não precisamos pensar.
O
silêncio da mente é alcançado não através da força, mas da gentileza repetida
de treinar nossa atenção, colocando nossa mente no reino do sagrado. Não na
ideia ou imagem do sagrado, mas no silêncio que nos abre para o reino do
sagrado.
Como
silêncio e em silêncio aguardamos o grande acontecimento que manifesta a vida
de amor presente no Cosmo, da qual tudo veio e a qual tudo retorna. A morte
dando novo sentido ao nosso amor cotidiano.
A
morte abrindo para o amor. Ressurreição.
Eymard
Vasconcelos, Sábado de Páscoa.
Inspirado em texto do monge Laurence Freeman da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (http://www.wccm.org.br/quaresma-2019/815-sabado-santo)
Inspirado em texto do monge Laurence Freeman da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (http://www.wccm.org.br/quaresma-2019/815-sabado-santo)
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