Papel do terapeuta: ajudar que
o sofrimento
dos pacientes não gere
negatividades e, sim, sabedoria, compaixão e
luta.
Para o budismo, um grande santo,
aquele ser humano que dedica todo o seu ser ao bem-estar na humanidade, quando
sofre, não gera negatividades.
A paixão de Jesus é um grande
exemplo. A cruz de Jesus, apesar de todo seu absurdo, tem gerado compaixão e
sabedoria. Seu sofrimento tem tocado a humanidade, gerando uma onda de amor ao
longo da história.
A fonte desse paradoxo está no modo como Jesus
enfrentou a paixão. Sofrimento e
injustiça extremos usualmente
geram revolta, ódio, medo e desânimo,
É
uma história antiga mostrando o pior lado do uso do poder na humanidade. Uma
história que fala de muitas outras histórias. Está acontecendo repetidamente enquanto
eu escrevo e você lê isso. Não foi uma paixão acidental ou inesperada. Pelo
contrário, vinha sendo anunciada e percebida, na medida em que Jesus enfrentava
poderes e concepções enraizadas naquela sociedade. Foi uma paixão assumida com firmeza
de que a missão precisava ir até o fim, revelando a possibilidade humana de
assumir seus propósitos mais sagrados sem se curvar ao medo do sofrimento. Anuncia
uma potência enorme presente no humano.
“Um dos guardas ali presente deu
uma bofetada no rosto de Jesus, dizendo: Esse é o modo de responder ao sumo
sacerdote? Jesus respondeu: - se há algo errado no que eu disse, mostre-o; mas
se não há ofensa nele, por que você me agride? ” Violência é irracional. Quando Jesus responde
ao guarda que o golpeia, vemos a razão enfraquecendo as fachadas da violência.
“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem
o que fazem”. Em um instante, o
insight sobre a causa, a ignorância e a falta de autoconsciência dos
responsáveis, revelando o caminho e o significado do perdão.
A
morte de Jesus tem gerado uma onda de amor. Seja reconhecido ou não como santo,
seu sofrimento toca a todos. Sua morte expõe as falhas humanas, mas sem esforçar
para acusar ou condenar. Revela a bondade e força presentes no ser humano.
Nós
profissionais de saúde cuidamos de situações, muitas vezes graves, de
sofrimento. Assistimos pessoas e famílias se afogarem em negatividades.
Rancores, paralisia e quebra de laços de solidariedade. Mas assistimos também
pessoas e famílias tornarem o sofrimento como força de solidariedade, sabedoria
e empenho na reorientação do viver.
Não
somos apenas assistentes do teatro da vida humana. Podemos interferir
fortemente em suas tramas. Como poucos, temos acesso à intimidade dos dramas e
sofrimentos. Nossas palavras e gestos têm acolhimento especial nessas
situações. Inspirados na potência revelada por Jesus diante de sua dramática
paixão, podemos colocar, como nossa missão terapêutica, o tornar o sofrimento
de nossos pacientes fonte de sabedoria, solidariedade e garra de superação dos
problemas familiares e comunitários. Fazer com que seu sofrimento não seja
fonte de negatividades que afogam.
A
fé na potência humana, inspirada em Jesus, nos ajuda acreditar que as duras situações
que acompanhamos podem ser superadas. E que, para além dos sofrimentos e morte,
há ressurreições. Com essa fé e esse propósito, podemos ir aprimorando nossos
gestos e palavras para contribuir no processo de redenção da inteireza humana
nos momentos mais difíceis da existência, mas que têm tanta repercussão na vida
comunitária e nas histórias familiares. Quem já viveu isso, sabe disso.
Essa
é uma das principais missões espirituais do trabalho em saúde.
Eymard
Vasconcelos, Pascoa de 2019.
Inspirado em texto do monge Laurence Freeman, da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (http://www.wccm.org.br/ )
Inspirado em texto do monge Laurence Freeman, da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (http://www.wccm.org.br/ )
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?