Maria Emília Bottini
Nada
nos acontece por acaso, bem sei disto. Dia desses, conheci duas colegas
psicólogas Luiza e Ivalda, encontramo-nos para uma conversa e nos estendemos
longamente. Lá pelas tantas, Ivalda me disse que ganhou um presente da mãe da
Luiza: -vou buscar para você ver. Saiu da sala e retornou com uma grande caixa.
Ao abri-la, meus olhos brilharam, havia uma boneca de pano com um vestido com
florezinhas delicadas de cor lilás, era uma das bonecas Vida.
Sou
apaixonada por bonecas de pano tem algum tempo, elas me lembram um tempo que se
foi, mas que ainda mora na memória do vivido. Então perguntei a ela, você fez
aniversário em maio? - Sim, respondeu-me, no que a outra também responde: - eu
também. E eu completei, afirmando que também era meu mês de festejar a vida.
Todas rimos com os acasos que nos juntaram naquele final de noite.
Tempos
depois, em uma noite fria de junho me encontrei novamente com minhas colegas,
agora já amigas para trocar ideias e dividir sonhos. Luiza então chegou com uma
caixa vermelha com bolinhas brancas, nela continha uma Boneca Vida que
recebi de presente da mãe dela em retribuição a uma flor de fuxico que lhe
enviei, mas antes ela me disse: - vou lhe contar uma história, ouvi então
atentamente.
Sua
mãe, Dona Sônia, soube que uma pessoa muito especial e por quem tinha um
carinho profundo, estava com câncer de mama, isso a deixou um tanto triste e
abatida. Imediatamente sua memória lhe remeteu à sua história vivida no passado
quando sua mãe sofre algo semelhante vindo a falecer em sua adolescência, a dor
foi ainda mais profunda.
Sentiu
uma pontada de medo e dúvida, pois câncer é palavra difícil e assustadora, mas
recorreu a sua fé, devota de Santa Rita de Cássia, a quem busca quando as
coisas lhe parecem complexas e sem saída. Rezou com devoção e fé, a ela fez uma
promessa que se aquela pessoa querida ficasse bem, faria várias bonecas a quem
daria o nome de Vida e seriam doadas para crianças que também estavam sofrendo
com o câncer.
Os
dias passaram rápidos e momentos antes da realização da primeira quimioterapia,
a primeira Boneca Vida nasceu e chegou às mãos de sua dona, seu vestido era de
florzinha miudinha, em seu braço havia uma pulseirinha de pérolas com a
identificação de seu nome e tinha até certidão de nascimento.
A
Boneca Vida foi entregue para sua dona em um almoço para lá de especial. Vida
estava em uma caixa lindamente confeccionada pelas mãos habilidosas de Dona
Sonia, representando o amor, a força, a fé e a esperança que sentia dentro de
si.
Entregou
então para sua dona para que não se sentisse sozinha, entendo que Santa Rita de
Cássia estaria ao seu lado naquela jornada difícil. Ao receber sua caixa a
abriu, chorou comovida com o gesto tão bonito, pegou a Boneca Vida com firmeza
e a abraçou junto ao peito e entendeu que ali tinha muito mais que uma pequena
boneca, era a sua vida que precisava de cuidado, pois uma doença a ameaçava.
Vieram
as quimioterapias, as dores, as complicações, as dúvidas, os medos, os exames e
depois de uma longa jornada que também foi vivida com muita coragem, as coisas
voltaram a ficar bem e o câncer recuou.
Depois
da melhora, a Boneca Vida continuou sendo construída e distribuída em diversos
espaços, especialmente para crianças que estavam doentes ou não. Algumas
pessoas apaixonadas por bonecas de pano e entusiasmadas com a existência,
ganham suas Vidas.
Dona
Sonia, criativa e de forma sensível e amorosa criou algumas bonecas com várias
expressões faciais, alegre, triste, assustada, feliz... E além disto há
possibilidade de retirar seu chapéu com seus cabelos presos, desta forma ela
fica careca. Essa boneca torna-se terapêutica, para ser usada em atividades com
crianças vítimas do câncer para que possam expressar seus sentimentos e dores
enfrentados durante do processo de tratamento.
A
Boneca Vida, agora mora na minha casa com seu vestido vermelho a me lembrar de
que gestos de amor ajudam a enfrentar momentos desafiadores. Sabemos que a vida
é uma dádiva que não teremos para sempre. Viver significa aprender as lições
que ela nos dá dia após dia, seja de que forma for e ela pode estar em uma
pequena boneca de pano feita por mãos amorosas de Dona Sônia a quem tenho
profunda gratidão pela lição de amor aprendida.
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