SAÚDE COMPLETA
Há dias de bons ventos e outros
de temporal... a consulta começou assim. Nem um "bom-dia doutora", ou um sorriso apareceram.
Calei meu “bom dia” e meu “bem
vinda” e esperei. A senhorinha meio descabelada entrou e sentou arrumando a saia, olhou nos meus
olhos e ficou quieta. Contornei a mesa, sorri e sentei e então dei bom dia. Respirei fundo e fiz a pergunta clássica sobre o que a trazia
à consulta médica. Manteve os dedos
cruzados e o olhar fixo em mim, também respirou fundo e disparou a falar.... tão
rapidamente que mal pude acompanhar. Anotei algumas palavras para não esquecer depois da ordem ao colocar na ficha.
Falou por uns 20 minutos até
perder o fôlego e parou bruscamente. Minha cabeça dava voltas para achar o
ponto propício para uma abordagem respeitosa
e para que eu pudesse colher informações mais coordenadas. Nada me vinha à cabeça. Sorri e assumi: Nem sei por onde começar a conversar com a senhora.
Foram muitas informações que a senhora
trouxe e eu não sei o que é mais importante no momento. Dentro de mim se
instalou um medo imediato de que ela se sentisse ofendida e achasse que era uma crítica ao seu falar ininterrupto. Antes que a minha culpa se instalasse completamente (sem a conhecer, e ela amim, eu podia estar sendo mal interpretada), ela respirou novamente fundo e sorriu
dizendo : falo demais né minha filha?
Aí o ar mudou de cor e
temperatura.
Iniciamos um conversa com ela me
dando todos os dados da anamnese em “ordem”!
Desde o que sabia sobre seu nascimento e infância, suas doenças e vacinas ,
seus dados dos ciclos menstruais e gravidezes e seguimos para o que a acometia
no momento. Exame físico feito, ficou me
olhando de soslaio um tempo... e começou a chorar baixinho, muito sentida. Não
entendi nada e tentei colocar que não havia nada de errado com seu exame
físico, nada que pudesse ser grave ou
atemorizante. Mas mesmo passando da hora da entrada do paciente seguinte,
deixei minha mão no braço dela, como um
peso morto “presente”. Chorou uns bons 5 minutos de ter soluços fundos.
Confesso que não tinha a menor ideia do que fazer. Quando calou, ofereci um lenço de papel que
rejeitou, enxugou os olhos na manga da blusa e me olhou levantando da maca e dizendo:
Ah eu só precisava de um espaço para chorar mesmo.
Deu por terminada a consulta e
saiu sem se despedir. Nunca mais vi D. Leocádia Simone!
Maria
Lúcia Futuro Mühlbauer
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