Maria Emília Bottini
Não gosto de frequentar
supermercados, mas algumas vezes se faz necessário. Nunca gostei, também não
gosto de outras tantas coisas, mas isso não vem ao caso. Acho que eles são tão
iguais em qualquer cidade, em qualquer país. Lugar de encontrar o que comermos
e bebermos, mas também demarca o lugar dos que podem comprar e dos que não
podem.
Em um sábado desses fui
ao mercado com meu marido, que tem como tarefa nas divisões domésticas do
trabalho levar o lixo e fazer as compras, como estava com ele o acompanhei.
Fizemos nossa seleção
semanal e chegamos ao caixa; aguardamos para retirar do carrinho as mercadorias.
Havia ali na nossa frente um homem, era alto e tinha apenas dois objetos em
suas mãos.
A garota do caixa passou o primeiro objeto no valor de R$15,00
e o homem questionou. “Tudo isso? Então não vou levar” disse ele. “E este?”
questionou, mostrando o segundo objeto. “Também não vou levar” disse o homem e
se afastou deixando seus dois objetos para trás. Os seus produtos eram tão
somente três escovas de dente e uma pasta e foram deixados para trás.
Questionei-me sobre
os que podem e os que não podem escovar seus dentes em um sábado à tarde e por
outros tantos dias.
Aparentemente não
tinha dinheiro suficiente para pagar pelos objetos que selecionou, artigos de
luxo naquele momento, ou considerou o preço abusivo por itens tão básicos. Não
dimensionamos que esse valor representa uma pequena fortuna para quem não tem.
Enquanto alguns poucos que podem pagam mini fortunas por bolsas, carros,
casas... Outros não tem escova e pasta para escovar seus dentes.
O homem, nessa
sociedade que vivemos, criamos e projetamos, vale apenas pelo que possui: tão somente este é seu valor? Se não tem dinheiro
ele não terá espaço e nem lugar, não vale, não existe, está à margem da
sociedade e passa a ser invisibilizado por ela. Não é visto, não é enxergado,
pois não o vemos e não queremos ver assim, nos distanciamos, pois ele denuncia
a falência da sociedade que criamos em que uns podem e outros não, uns tem
direito à riqueza e outros direito à pobreza.
Talvez sempre tenha
sido dessa forma, um tanto desanimador ou realista, mas inventamos que
precisamos escovar os dentes, porém não oportunizamos porque o lucro é abusivo
e, dessa forma, alguns vão perdendo seus dentes. Ainda somos um país de muitos desdentados,
não por falta de dentistas.
[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das
10 aos Sábados]
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