DOS DIAS
COM NUVENS
Caminhava cuidadosamente olhando para a calçada
cheia de buracos. Depois de certa idade deu de ser cautelosa. Algumas amigas já
haviam caído com consequências nefastas, sendo que duas foram parar na sala de
cirurgia. Com ela não: nada de hospitais e fraturas, caminhava devagarinho, com
cuidado, atenta ao chão.
Corria mais que andava, pulava amarelinhas
imaginárias, fingia que voava, lépida e fagueira por dentro e um tanto
apressada por fora. Afinal, havia um céu
azulzinho para ser olhado e conquistado. Um céu que no momento até apresentava
algumas nuvens. Mas era bom assim! Dias com nuvens despertavam desejos de
conquistas.
Quem olhava
de longe percebia o contraste entre os dos caminhares... e era isto que a moça
com o bebê na pracinha estava apreciando
quando viu a senhora vagarosa levantar levemente a cabeça e menear olhando a
outra a dar passos soltos e saltitantes que passou aos seu lado. Chegou a parar
e a moça achou mesmo que parecia petrificada. Nem pareciam ser ambas de uns 60 e poucos anos
tal a diferença na postura. A cautelosa
olhou um pouco mais para cima ainda estática e deu de ombros ao voltar a
caminhar.
De longe a
moça ficou reparando, reparando... a saltitante ia longe e a outra aos pouco
foi levantando a cabeça e tirando o olhar do chão, aprumando o corpo, firmando
o passo e num momento olhou para o céu e se animou, e se pôs a caminhar com
cada vez maior firmeza e elegância.
A moça sorriu e pegando seu bebê se foi da pracinha achando que o dia estava ganho!
A moça sorriu e pegando seu bebê se foi da pracinha achando que o dia estava ganho!
Maria Lúcia Futuro Mühlbauer
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