Maria Emília Bottini
Encontrei
dia desses e por alguma razão guardei em um arquivo no meu computador. Talvez
para trabalhar com algum paciente ou mesmo escrever uma crônica inspirada nela,
que hora faço.
Quando
a olho me sinto provocada a refletir. Penso na nossa rigidez cotidiana e insana,
por vezes apegados aos velhos costumes, sem abrir mão de algumas coisas, pois vergar
significa sofrer menos. Muitas vezes mantemos nossa rigidez a nos machucar, sem
nos dar conta que vergar é sábio e necessário, é preciso aprender com as
árvores.
Há
sabedoria nas árvores que vergam para não quebrarem seus galhos quando o vento
faz suas danças, seja em movimentos lentos ou nada calmos a quase tirar as
raízes do chão. Vergar é uma forma de inteligência, vergando as árvores se
mantem firmes e fortes para seguir existindo. Já em outras vezes, mesmo
vergando suas raízes são arrancadas devido aos ventos que são devastadores, até
mesmo para as árvores.
Mulheres,
homens, crianças, idosos precisam, em muitos momentos da vida, vergar-se, dobrar-se
à situação que se apresenta ou quebrarão e isso torna a existência um pouco
mais difícil. Quando quebrados precisam de ajuda, o que nem sempre aceitam,
pois ainda relutam em se vergar. Vergar é, por vezes, nossa alternativa para
continuar a existir assim como as árvores.
A
vida é um eterno vento que sopra a nos desacomodar e quando acostumados com ele,
lá vem outra rajada a nos soprar mais e mais, quase a nos quebrar, arrancando-nos
de nosso lugar conhecido e dominado fazendo-nos acreditar que será permanente; noutras
situações o vento é calmo e a calmaria parece reinar, apenas parece. É preciso acostumar-se
com o vento que sempre sopra, ter atenção
vigilante é o nome do jogo.
Quando nos sentirmos arrancados pelos ventos que
sopram, é preciso ter a humildade de começar novamente, tomar fôlego, recompor-se,
sacudir a poeira e seguir o movimento de readaptação. Os ventos sempre nos
modificam, é de sua natureza. Mesmo para as árvores algumas frutas e folhas são
perdidas, mas é preciso continuar a ser árvore, mesmo com as perdas.
Precisamos
encontrar dentro de nós a resiliência, capacidade de vergar e voltar ao estado
original, não sem incorporar as mudanças, é sábio aprender a vergar, para não
quebrar.
[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das
10 aos Sábados]
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