Maria Emília Bottini
Nossos trabalhos levam-nos a vivenciar experiências
que mais parecem lições a ser aprendida, sem nos darmos conta de onde possa
surgir tal aprendizado.
Encontrei-me dia desses com uma amiga do
coração, saímos para almoçar. Conversamos tanto que quando o garçom cobrou a
conta na nossa mesa, descobrimos que não havia mais ninguém no restaurante
somente nós duas absorvidas em nossas trocas afetivas.
Seguimos juntas pela rua de braços dados. Então,
conta-me mais história, a de uma águia americana que cruzou seu caminho no
zoológico de Brasília. Embora seja veterinária, no momento, trabalhava com os índios.
Os animais estavam sem estímulos há muito tempo, pensou o que poderia ser feito
para devolver aos desalmados bichos, sua alma, pois muitos pareciam tê-la
perdido.
Existia uma águia que não respondia a
nenhum estímulo proposto. Houve várias tentativas e nada dava certo, o bichano
continuava cabisbaixo e sem voar, coisa estranha para uma ave, cujo destino é a
liberdade. Algo tinha sido perdido na prisão na qual se encontrava.
Certo dia, surge, no zoológico, um
profissional com experiência em lidar com águias, visto ter morado nos Estados Unidos.
Ao verificar as condições de habitat, propôs algumas mudanças. Ele sugeriu o
corte das árvores que estavam muito grandes, foi realizado, porém nada mudou.
Propôs o corte das unhas, como não estava voando cresceram muito, cortaram, não
ocorreu nada. A águia comia apenas comida fria, então propôs que lhe fosse dado
comida quente. Realizaram os preparativos para que isso ocorresse. Levaram até
a gaiola uma caixinha de papelão com um rato vivo dentro dela.
No instante em que o homem aproximou-se da
gaiola, a águia sem ter visto o objeto do seu desejo (que permanecia escondido
na caixa) ergueu suas asas enormes, teve uma reação imediata e instintiva
apenas pelo cheiro, “está acontecendo algo diferente por aqui”.
O homem entrou na gaiola, abriu a caixa, e
a águia voou imediatamente para cima dele, mal consegui sair sem se ferir,
tamanha vontade que pousou sobre aquela ave. A águia reagiu, sua alma voltou a
pertencer ao seu corpo para novos voos, novas possibilidades e novas caças.
Minha amiga conta-me essa pequena/grande
história e, em seguida, comenta: “é o que estamos fazendo na educação, nas
empresas, nos casamentos, tirando a alma das pessoas”.
Fiquei, por dias, pensando na águia e o
quanto ela revela de nós, de nossa forma de agir e, por vezes, sem nos darmos
conta de que a vida é preciosa para ser desperdiçada em gaiolas invisíveis que
nos tiram a alma, nos fazem perder o brilho, a cor e a vontade de viver.
É preciso abrir as gaiolas invisíveis e
voltar a voar, não sem antes encontrar a motivação para o voo.
[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das
10 aos Sábados]
❤️
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