Rua Balsa das 10: O PRINCÍPIO DA EQUIDADE NO SUS E A PANDEMIA

Imagem capturada na intenet, 2020.

Ernande Valentin do Prado;

Seiko Nomiyama;

Islany Alencar

Você já pensou na relação entre o princípio da equidade no Sistema Único de Saúde e a pandemia do novo Coronavírus?

Será que este vírus, causador da COVID-19, coloca em risco a vida de toda a população de forma igual ou há quem corra mais riscos de adoecer, morrer ou passar graves dificuldades financeiras?

Você se lembra da primeira vítima fatal da COVID-19 no Rio de Janeiro, era uma turista que viajava pelo exterior ou uma trabalhadora humilde?

Foi uma mulher de 63 anos, empregada doméstica no Leblon, área nobre do Rio de Janeiro, possivelmente contaminada por sua empregadora. A patroa voltava da Itália, país onde muitas pessoas já tinham morrido por causa da Covid-19.

Ao perceber os sintomas ela recorreu ao serviço de saúde, foi tratada e se curou. Sua empregada, no entanto, não recebeu os mesmos cuidados e faleceu por complicações causadas pelo novo Coronavírus.

Terá sido a trabalhadora vítima da desigualdade sociofinanceira ou foi apenas falta de sorte, destino de pobre?

A pandemia do novo Coronavírus está ressaltando ainda mais a desigualdade social no Brasil. As pessoas mais afetadas são as que vivem na periferia, onde a precariedade é maior e a contaminação é mais fácil e rápida, quase inevitável, pois vive-se aglomerado dentro de casa ou nos próprios bairros. Essas pessoas não têm como seguir as recomendações de isolamento ou passar a fazer em casa o seu trabalho.

Serão as mortes na periferia e entre a população mais pobre destino ou consequência direta das escolhas dos governantes e de como o mundo é organizado?

O capitalismo organiza as relações financeiras e consequentemente a vida humana, al qual os torcedores em cima dos caixotes olhando a disputa esportiva por cima da cerca.

No capitalismo, equidade é uma contradição, mesmo assim o Sistema Único de Saúde SUS) ousa ter como um de seus princípios a equidade, que é um valor moral e ético de solidariedade e justiça social.

Sendo tão essencial, será a equidade apenas no SUS suficiente para corrigir as injustiças sociais ou é necessário que o estado passe a ser pensado com equidade?

Vamos pensar sobre isso:

Se houvesse uma distribuição igualitária de caixotes para os torcedores atrás da cerca, continuaria havendo desigualdade e injustiça, porque para corrigir as graves distorções criadas pelo sistema capitalista é necessário que os caixotes sejam distribuídos com equidade.

Sem equidade não existe justiça social.

No entanto, o problema é ainda maior, a iniquidade no Brasil não é uma distorção do sistema, ela é desejada, planejada e comemorada pelas elites econômicas.

O estado brasileiro é organizado de modo que pouquíssimos torcedores tenham muitos caixotes, alguns outros tenham um caixote e a grande maioria não tenha nenhum caixote e viva só de esperança.

Isso é iniquidade, o contrário de equidade.

A profunda diferença na distribuição das riquezas e dos recursos sanitários entre as regiões do país e nas áreas dentro dos estados e os municípios, e a naturalização da desigualdade sociofinanceira, explica porque pessoas em situação de vulnerabilidade social, como a empregada doméstica do início do texto e não sua patroa, estão mais propensas a adoecer e morrer.

Já tinha pensado sobre isso?

Referências consultadas

ALBRECHT, Cristina Arthmar Mentz; ROSA, Roger dos Santo; BORDIN, Ronaldo. O conceito de equidade na produção científica em saúde: uma revisão. Saúde Soc. São Paulo, v.26, n.1, p.115-128, 2017

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RJ2. Conheça alguns mortos pelo novo coronavírus no RJ. Disponível em: Acessado em: 01 abri. 2020.

ROSSI, Marina. Periferia lidera as mortes por coronavírus na cidade de São Paulo, e as mulheres adultas são as mais infectadas. Disponível em: Acessado em: 19 abr. 2020.