21 setembro 2020

A CALMA NA NOITE

 

foto de Paulo Roberto de Freitas Futuro

A CALMA NA NOITE

 

Estava se sentindo perdido. Já evitava ler notícias e ver televisão fazia muito tempo. Bom, às vezes até sentava para ver um filminho com o pessoal da casa, coisa rara, pois preferia os livros. Falava com quem questionava sua decisão de evitar ouvir as coisas violentas, que eram alardeadas pelos repórteres, que o que fosse de real importância acabaria chegando até ele. E as coisas mesmo nem tão importantes e decisivas estavam chegando num tipo de tsunami de julgamentos e oposições que doía. Doía nos ouvidos, pelos tons das indignações justas embrulhadas em  raivas, doía na alma saber que o Bem era discreto e quase invisível (mas estava ali, acolá, em muitas partes e gentes...), doía nos olhos ver que a violência e o ódio eram estimulados e propagados em divisões e julgamentos apressados e cheios de partes de verdades...

Estava se sentindo perdido do mundo e de si, de tanto que se permitira ouvir argumentos e contra argumentos na hora do jantar. Onde estaria a verdade? Voltou a se perguntar, como na juventude, qual o motivo de viver e qual a sua missão na vida, agora que já estava aposentado, já cuidara de filhos, alunos, bichos, mulher e netos... Claro que amava dar aulas de flauta para a garotada das redondezas, mas seria isto seu prazer ou sua tarefa. Deu de ombros no pensamento... o amor pela música salva! Caminhou querendo pacificar a mente e o coração, acalmar seu corpo e ... se deparou com uma imagem de si mesmo num remanso. Era ele numa forma perfeita, achou sua calma e sua beleza, seu tom e seu som no silêncio.

Ficou em paz.

 

Maria Lúcia Futuro Mühlbauer 

                                                                                                             Publica às segundas-feiras

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