A CALMA NA NOITE
Estava se sentindo perdido. Já evitava ler notícias
e ver televisão fazia muito tempo. Bom, às vezes até sentava para ver um filminho
com o pessoal da casa, coisa rara, pois preferia os livros. Falava com quem
questionava sua decisão de evitar ouvir as coisas violentas, que eram alardeadas
pelos repórteres, que o que fosse de real importância acabaria chegando até ele.
E as coisas mesmo nem tão importantes e decisivas estavam chegando num tipo de
tsunami de julgamentos e oposições que doía. Doía nos ouvidos, pelos tons das
indignações justas embrulhadas em raivas,
doía na alma saber que o Bem era discreto e quase invisível (mas estava ali,
acolá, em muitas partes e gentes...), doía nos olhos ver que a violência e o
ódio eram estimulados e propagados em divisões e julgamentos apressados e
cheios de partes de verdades...
Estava se sentindo perdido do mundo e de si, de
tanto que se permitira ouvir argumentos e contra argumentos na hora do jantar. Onde
estaria a verdade? Voltou a se perguntar, como na juventude, qual o motivo de
viver e qual a sua missão na vida, agora que já estava aposentado, já cuidara
de filhos, alunos, bichos, mulher e netos... Claro que amava dar aulas de
flauta para a garotada das redondezas, mas seria isto seu prazer ou sua tarefa.
Deu de ombros no pensamento... o amor pela música salva! Caminhou querendo
pacificar a mente e o coração, acalmar seu corpo e ... se deparou com uma
imagem de si mesmo num remanso. Era ele numa forma perfeita, achou sua calma e
sua beleza, seu tom e seu som no silêncio.
Ficou em paz.
Maria Lúcia Futuro Mühlbauer
Publica às
segundas-feiras
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