O cinema é uma arte multifacetada: é
indústria cultural, é mercado, é arte, é cultura, é espetáculo, é lucro, é entretenimento,
é diversão e ferramenta de reflexão; assim se constitui como uma expressão da
sociedade moderna. Ele não é nem ingênuo e nem inocente e tampouco desarmado de
intenções. Sem dúvida, é uma das grandes contribuições da arte e da ciência
para a humanidade, pois com ele podemos refletir nosso existir.
Sou fã do cinema desde longa data. Gosto
do cinema que me faz pensar e alguns simplesmente chegam até mim como o
documentário “Human” do cineasta e fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand. Ele passou
três anos viajando pelo mundo, percorreu 60 países, conversou com pessoas e registrou
de forma contundente histórias da vida real, no mundo, de 2 mil homens,
mulheres e crianças. Deste trabalho, Yann e sua equipe selecionaram 200
depoimentos, dentre eles estão quatro brasileiros. O documentário tem a pretensão
de entender qual é a essência e o significado da vida humana.
Desenvolveu em 2009 semelhante proposta em
“6 bilhões de outros”, projeto que
durou cinco anos, em 78 países, que rendeu 5600 entrevistas com 40 questões
norteadoras.
Eu sempre assisto muitos filmes, mas confesso
que este documentário superou tudo o que eu já havia visto. As histórias são
povoadas de prazer e dor, de alegria e lágrimas, de amor e ódio, de
generosidade e ganância... essa é a espécie a que pertencemos, somos um misto
de anjo e demônio, essa é nossa natureza.
Depoimentos inspiradoras e emocionantes, em
cada rosto que aparece na tela expõe sua essência, seu entendimento e percepção
de mundo. Imagens belíssimas intercalam as palavras ditas com emoção e nos
tocam porque falam de todos nós e de nossa humanidade. A identificação é
inevitável, o outro está em mim. As imagens são de beleza ímpar escolhidas a
dedo pelo olhar apurado do fotógrafo/cineasta. Parecem-se com pinturas feitas
por um genial pintor, misturas de cores saltam aos olhos nos mostrando que o
Planeta é frágil.
Há diversidade de visões de mundo, de
pessoas e de culturas. Na essência somos todos conectados a este grande
universo que é a Terra. O resultado do trabalho é simplesmente maravilhoso e
emocionante.
Arthus-Bertrand nos diz: “Eu sonhei com um filme em que a força das
palavras ampliasse a beleza do mundo. As pessoas me falaram de tudo; das
dificuldades de crescer, do amor e da felicidade. Toda essa riqueza é o centro
do filme Human. Esse filme representa todos os homens e mulheres que me
confiaram suas histórias. O filme se tornou um mensageiro de todos eles”.
O documentário estreou no Festival de
Veneza, e foi exibido na sede das Nações Unidas em Nova York. Yann
Arthus-Bertrand realizou uma parceria com o Google Cultural Institute e lançou
versões do documentário em seis idiomas, que estão disponíveis no YouTube desde
setembro. Dividido em três episódios: 1) trata do amor, da condição da mulher,
do trabalho e da pobreza; 2) aborda a guerra, o perdão, a homossexualidade, a
família e vida após a morte; 3) trata da felicidade, da educação, das
deficiências, da corrupção e do sentido da vida.
Neste documentário não aparecem pessoas
famosas, apenas Mujica (ex-presidentre uruguaio) se pode reconhecer, os demais são
pessoas comuns. A intenção foi a de demonstrar que somos todos um e o que
fizermos a um atinge a todos, existe uma conexão entre nós. Um documentário que
nos ajuda a refletir nossa condição humana na Terra, lembrando-nos que somos parte
do problema, mas também parte da solução. Negamos essa condição de mudar o
mundo que inventamos e que vai destruir.
Bem que poderíamos começar por nossas
mentes, um pouco a cada dia, e dessa forma ampliando nossa velha opinião
formada sobre tudo como diria Raul Seixas.
[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das
10 aos Sábados]
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