01 novembro 2021

ONDE FOI PARAR?

 


ONDE FOI PARAR?

De súbito foi arrebatado pela mão e levado para frente. Quando se deu conta já estava andando sem saber para onde ia. Tentou resistir, mas o filho que o tomou pela mão fez força e conseguiu arrastar o seu corpo grande e pesado. Sabe Deus como um mero adolescente varapau tinha tanta força!!!

Seguiu meio aos trancos, meio tropego, meio curioso, os passos daquele guia dos joelhos grande e pés desproporcionais para seu tamanho. Foram longos 5 minutos de caminhada ofegante.

Desceu a rua e foi dar num córrego que descia rápido quase uma cachoeira e viu.. viu o terror da criançada que se agarrava um ao outro pelas mãos e braços tentando conter o afogamento de uma égua!!!  A pobre estava segura pela crina por 5 mãos que que se agarravam a ouras cinco crianças e assim 15 pixotes estavam exaustos tentando salvar a égua das águas rápidas do “Corguinho”. Entendeu o recado, tirou os sapatos e torceu para que nenhuma criança ou adolescente do processo se cansasse antes dele dar conta de desviar a  bicha para a margem.

Já dentro do riacho, ultrapassou o grupo e nadou empurrando a égua para mais peto do grupo, em direção ao lugar de remanso.

 Esforço conjunto, as crianças puxando e ele empurrando. Na hora só podia pensar que estes meninos eram heróis, eram fantásticos... que orgulho! Logo imaginou o risco que estavam correndo pois se um cavalo ia na correnteza... eles poderiam morrer afogados!

 O pavor do fato quase o fez engolir água. Levaram uns bons 20 minutos empurrando e puxando a égua que se deixava manipular como se estivesse sem forças.

Chegaram num remanso bem longe de onde entraram no córrego e aí puxaram a égua para que ficasse de pé. Ela não reagia, parecia ter engolido toda água do riacho, tamanha barriga tinha. Resfolegava, e isto ao menos deu ânimo ao grupo enxarcado. Sentaram todos no banco de areia mais seco. Alguns até deitaram de cansaço. Ele olhou o filho e passou a mão nos cabelos do menino já grandinho mas sempre um filhinho para ele, olhou os amigos, e viu que tinha até criança pequena no “grupo de resgate” Um pequeno de uns seis ou sete anos!! Aos poucos começaram a falar, claro, todos excitados e ao mesmo tempo. Sorriu complacente e elogiou a atitude embora não deixasse de falar dos riscos que correram. Nisto a égua resfolegou mais forte e fez um movimento diferente, como espichando o corpo. As atenções se voltaram para ela que começou um movimento de ficar de barriga para baixo como se fosse levantar. Mas depois parou e voltaram a se deitar, mais relaxados e rindo. Ainda cansados do Super esforço, e tendo um adulto com eles, não se apressaram para caminhar de volta para a prainha do córrego onde tudo começou. Especulavam de quem seria a égua, e como tinha caído na correnteza.

 De novo a égua estrebuchou e se moveu num esforço para mudar de posição e acabou por se colocar de pé e arqueada, fazendo movimentos convulsos. Não era água que havia na barriga dela! Era bem outra coisa. Enquanto pensava ela deu uma mini corcoveada e jorrou um monte de líquido e saíram uma patinha de dentro dela. Em minutos, no maior e mais respeitoso silencia eles viram o nascimento de um potrinho castanho, e se deixaram ficar ali maravilhados com a vida, com o fato de terem ajudado a dois seres companheiros de jornada a saírem da água. O pequeno até chorou de emoção ... e o adulto também. Por fim, um abraço coletivo entre os humanos e um carinho em mãe e filho foram o sinal de tomarem a margem do córrego para voltar até onde houvesse rua.

Voltaram em silencia como numa procissão de oração, de gratidão e de louvor à natureza.

Nunca mais nadar no córrego foi sem reverência. Nunca souberam de quem era a égua não viram mais nem  ela nem o potrinho.

 

Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas feiras

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