ONDE FOI PARAR?
De súbito foi arrebatado pela mão
e levado para frente. Quando se deu conta já estava andando sem saber para onde
ia. Tentou resistir, mas o filho que o tomou pela mão fez força e conseguiu
arrastar o seu corpo grande e pesado. Sabe Deus como um mero adolescente varapau
tinha tanta força!!!
Seguiu meio aos trancos, meio
tropego, meio curioso, os passos daquele guia dos joelhos grande e pés
desproporcionais para seu tamanho. Foram longos 5 minutos de caminhada
ofegante.
Desceu a rua e foi dar num córrego
que descia rápido quase uma cachoeira e viu.. viu o terror da criançada que se
agarrava um ao outro pelas mãos e braços tentando conter o afogamento de uma
égua!!! A pobre estava segura pela crina
por 5 mãos que que se agarravam a ouras cinco crianças e assim 15 pixotes
estavam exaustos tentando salvar a égua das águas rápidas do “Corguinho”.
Entendeu o recado, tirou os sapatos e torceu para que nenhuma criança ou
adolescente do processo se cansasse antes dele dar conta de desviar a bicha para a margem.
Já dentro do riacho, ultrapassou
o grupo e nadou empurrando a égua para mais peto do grupo, em direção ao lugar
de remanso.
Esforço conjunto, as crianças puxando e ele
empurrando. Na hora só podia pensar que estes meninos eram heróis, eram
fantásticos... que orgulho! Logo imaginou o risco que estavam correndo pois se
um cavalo ia na correnteza... eles poderiam morrer afogados!
O pavor do fato quase o fez engolir água. Levaram
uns bons 20 minutos empurrando e puxando a égua que se deixava manipular como
se estivesse sem forças.
Chegaram num remanso bem longe de
onde entraram no córrego e aí puxaram a égua para que ficasse de pé. Ela não reagia,
parecia ter engolido toda água do riacho, tamanha barriga tinha. Resfolegava, e
isto ao menos deu ânimo ao grupo enxarcado. Sentaram todos no banco de areia
mais seco. Alguns até deitaram de cansaço. Ele olhou o filho e passou a mão nos
cabelos do menino já grandinho mas sempre um filhinho para ele, olhou os
amigos, e viu que tinha até criança pequena no “grupo de resgate” Um pequeno de
uns seis ou sete anos!! Aos poucos começaram a falar, claro, todos excitados e
ao mesmo tempo. Sorriu complacente e elogiou a atitude embora não deixasse de
falar dos riscos que correram. Nisto a égua resfolegou mais forte e fez um
movimento diferente, como espichando o corpo. As atenções se voltaram para ela
que começou um movimento de ficar de barriga para baixo como se fosse levantar.
Mas depois parou e voltaram a se deitar, mais relaxados e rindo. Ainda cansados
do Super esforço, e tendo um adulto com eles, não se apressaram para caminhar
de volta para a prainha do córrego onde tudo começou. Especulavam de quem seria
a égua, e como tinha caído na correnteza.
De novo a égua estrebuchou e se moveu num
esforço para mudar de posição e acabou por se colocar de pé e arqueada, fazendo
movimentos convulsos. Não era água que havia na barriga dela! Era bem outra
coisa. Enquanto pensava ela deu uma mini corcoveada e jorrou um monte de líquido
e saíram uma patinha de dentro dela. Em minutos, no maior e mais respeitoso silencia
eles viram o nascimento de um potrinho castanho, e se deixaram ficar ali maravilhados
com a vida, com o fato de terem ajudado a dois seres companheiros de jornada a saírem
da água. O pequeno até chorou de emoção ... e o adulto também. Por fim, um
abraço coletivo entre os humanos e um carinho em mãe e filho foram o sinal de
tomarem a margem do córrego para voltar até onde houvesse rua.
Voltaram em silencia como numa
procissão de oração, de gratidão e de louvor à natureza.
Nunca mais nadar no córrego foi
sem reverência. Nunca souberam de quem era a égua não viram mais nem ela nem o potrinho.
Maria Lúcia Futuro
Mühlbauer
Escreve às segundas
feiras
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