Maria Amélia Mano
Oh Marias, silenciadas, sem escolhas, inibidas de olhos tristes, brilhai, estrelai, encantai, inflamai, ardei e berrai Vossa verdade por nós.
Oh Marias, condenadas, submetidas, aprisionadas por amor-algema, escapai, libertai, parti, reinventai, recomeçai e renascei das cinzas por nós.
Oh Marias, subtraídas, diminuídas, anônimas, escondidas, desconhecidas, multiplicai, espalhai Vossa semente, cantai por nós Vosso nome.
Oh Marias, magoadas, violentadas, partidas, quebradas, marcadas, exiladas, refugiadas de ressentimentos, cruzai fronteiras, transcendei Vossa dor por nós.
Oh Marias, obrigadas ao excesso de lucidez, descabelai, desgrenhai, criai, sonhai, alucinai, pecai, andarilhai e defendei Vossa loucura por nós.
Oh Marias, proibidas de saberes antigos, de crer e rezar, ensinai, eternizai, sacralizai, batucai, girai e invocai mães ancestrais por nós.
Por todas nós que recorremos a Vós.
Amém
Ilustração: Monica Barengo
Texto parte da coletânea Marias e Clarices organizada por Rubem Penz
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?