v
VALIDADO
VALIDADO... Acordou com esta palavra
na boca. Vai saber... o que estava validado? Por quem? Para que?
Levantou encasquetado com a palavra
que amanheceu tão nítida na mente. Lembrar de sonho que era bom... nada, agora
o diabo de uma palavra sem nenhum sentido estava ali, brilhando!
Pensou, ainda sonolento, e resolveu brincar
com algumas palavras e usar durante o
dia. Brincar com o significado, com o desuso no dia a dia e assim seguiu para o
banheiro indo fazer suas abluções. Riu consigo mesmo e foi avante. Depois do
banho desceu a escadaria e foi fazer seu desjejum antes de escafeder-se porta
afora sem que a família visse.
O humor melhorou consideravelmente desde o
acordar. Caminhou canhestro pelas pedras do calçamento irregular que o levava
ao trabalho. Os colegas se espantaram com seu sorriso matinal (coisa
rara). Acontece que este rir por dentro,
de uma brincadeira que inventou, estava sendo interessante. Pegou no batente (e
imaginou que era da porta, quase riu alto), e cortou madeira na serra grande e
perigosa com leveza. Acabou as tarefas meia hora mais cedo e teve tempo de
abluir-se antes de seguir para a universidade. Caminhou com vagar imaginando
que palavras poderia empregar neste turno. Buscou na memória os escritos de um
papel antigo que seu avô tinha na mesinha de cabeceira. E foi com toda pachorra
deambulando pela calçada e assoviando.
Aulas noturnas, com maioria absoluta
de alunos que trabalhavam para estudar e se manter, nem sempre alcançando as
duas coisas, mas muitos entrados em anos, casados e com filhos. Por sorte não
era seu caso. Não era adolescente mais ainda estava na casa dos 20. Olhou os
colegas ao redor, animados e falantes e riu consigo do seu brincar. Entrou na
roda de conversa, e cumprimentou a todos genericamente com um -oi pessoal! Dois
dos presentes retrucaram com um oi em tom de espanto... chegar assim na hora e
tão alegrinho... realmente extraordinário.
Mais uma vez riu pra dentro, se divertindo com a escolha feita de manhã. Era
considerado esdruxulo pelos colegas, suas esquisitices já reconhecidas, seu
aspecto desarrumado e sua entrada em sala de forma corrida e suada aceitos de
longa data.
Bom humor, chegada limpo e na hora...
era admirável e para ele era uma situação díspare. Seguiu a noite toda pensando
e até falando palavras distintas,
buscando sinônimos e raridades e resolveu que realmente estava validando o dia!
Validando a brincadeira, validando o bem viver!
Que muitas vezes fosse assim!
Maria Lúcia Futuro
Mühlbauer
Escreve às segundas
feiras
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?