21 fevereiro 2022

VALIDADO

 

v


VALIDADO

 

VALIDADO... Acordou com esta palavra na boca. Vai saber... o que estava validado? Por quem? Para que?

Levantou encasquetado com a palavra que amanheceu tão nítida na mente. Lembrar de sonho que era bom... nada, agora o diabo de uma palavra sem nenhum sentido estava ali, brilhando!

 Pensou, ainda sonolento, e resolveu brincar com algumas  palavras e usar durante o dia. Brincar com o significado, com o desuso no dia a dia e assim seguiu para o banheiro indo fazer suas abluções. Riu consigo mesmo e foi avante. Depois do banho desceu a escadaria e foi fazer seu desjejum antes de escafeder-se porta afora sem que a família visse.

 O humor melhorou consideravelmente desde o acordar. Caminhou canhestro pelas pedras do calçamento irregular que o levava ao trabalho. Os colegas se espantaram com seu sorriso matinal (coisa rara).  Acontece que este rir por dentro, de uma brincadeira que inventou, estava sendo interessante. Pegou no batente (e imaginou que era da porta, quase riu alto), e cortou madeira na serra grande e perigosa com leveza. Acabou as tarefas meia hora mais cedo e teve tempo de abluir-se antes de seguir para a universidade. Caminhou com vagar imaginando que palavras poderia empregar neste turno. Buscou na memória os escritos de um papel antigo que seu avô tinha na mesinha de cabeceira. E foi com toda pachorra deambulando pela calçada e assoviando.

Aulas noturnas, com maioria absoluta de alunos que trabalhavam para estudar e se manter, nem sempre alcançando as duas coisas, mas muitos entrados em anos, casados e com filhos. Por sorte não era seu caso. Não era adolescente mais ainda estava na casa dos 20. Olhou os colegas ao redor, animados e falantes e riu consigo do seu brincar. Entrou na roda de conversa, e cumprimentou a todos genericamente com um -oi pessoal! Dois dos presentes retrucaram com um oi em tom de espanto... chegar assim na hora e tão alegrinho...  realmente extraordinário. Mais uma vez riu pra dentro, se divertindo com a escolha feita de manhã. Era considerado esdruxulo pelos colegas, suas esquisitices já reconhecidas, seu aspecto desarrumado e sua entrada em sala de forma corrida e suada aceitos de longa data.

Bom humor, chegada limpo e na hora... era admirável e para ele era uma situação díspare. Seguiu a noite toda pensando e até falando palavras  distintas, buscando sinônimos e raridades e resolveu que realmente estava validando o dia! Validando a brincadeira, validando o bem viver!

Que muitas vezes fosse assim!

 

Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas feiras

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que tem a dizer sobre essa postagem?

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog