11 fevereiro 2022

Vivendo e não aprendendo


Estes dias fui jogar o lixo. Coloquei a minha mascara N95, saí escondido, depois de olhar pela janela e não ver ninguém por perto. Fui rapidinho e voltei em menos de 40 segundos. Voltando, dei de cara com o filho da vizinha, de uns 12 anos e sem máscara. Nem ele, nem o irmão, de uns 4 anos, nem o pai, nem a mãe e nem a avó, usam mascaras ou melhor, devem usar quando são obrigados para entrar em algum lugar que proíbe entrar sem a máscara.

Poucos dias antes eu escutei a mãe gritando, para o prédio todo ouvir (ou ao menos o andar) que vacinar criança só pode ser safadeza, que não existe criança com Covid (hoje de manhã ela admitiu que uma criança morreu de Covid, uma, apenas uma – queria saber de onde ela tira esses números e essa convicção).

As informações dela são besteiras sem tamanho, que deve ouvir de um idiota e repte como papagaio. Também deve ouvir dos seguidores mais idiotas do que o idiota mor. O idiota mor é o Presidente general, quer dizer, o presidente capitão que prometeu matar mais de 30 mil e já matou quase 700 mil pessoas com seu discurso assassino, atrasando a compra de vacina e fazendo tudo que pode para evitar o isolamento social.

Até aí tudo bem, afinal de contas, não é fácil ter a cabeça no lugar e pensar por si mesmo. Sei que é bem mais fácil acreditar em um mito, seguir um líder, um pastor, um Deus qualquer, até porque, caso tudo dê errado, ainda se pode jogar a responsabilidade nas costas dos líderes e se fazer de vítima, de coitadinho (e eu não sei se odeio mais o porco ou o dono do chiqueiro, não sei mesmo). O que sei, no momento, é que existem muitos bolsonaristas arrependidos e, pior do que um bolsonarista arrependido é um bolsonarista que ainda não se arrependeu.

Mas tem uma coisa que me incomoda e me fascina ao mesmo tempo e muito, mas muito mesmo, porque não consigo entender, não consigo processar em meu cérebro ou nos meus sentimentos. Sabe! Sempre ouvi dizer que é possível aprender pelo amor ou pela dor. Ouvi muito dizer que algumas pessoas só aprendem pela dor e até consigo entender sem problema. Afinal, aprende-se de diferentes maneiras e é preciso conhecer as pessoas e possibilitar que elas aprendam, seja qual for o método necessário.

Mas o que dizer de uma pessoa que perdeu o pai de Covid, antes da existência da vacina, que o Bolsonaro não quis comprar e só comprou quando não teve mais como evitar?

Essa mesma pessoa, que enterrou seu pai sem velório, continua não usando máscara, fazendo discurso contra a vacina das crianças, mesmo tendo ela mesma se vacinado e ainda repetindo os discursos idiotas e assassino do capitão, como pode?

Será que o Edgar Scandurra está certo e o ditado popular errado? O ser humano ou ao menos os seres bolsonaristas estão vivendo e não aprendendo?

Nem pela dor, já que amor é algo que eles e elas não compreendem ainda?

Sigamos questionando.


Este texto foi adaptação do podcast MÚSICA PARA PENSAR e a versão original pode ser ouvida aqui:


Ernande Valentin do Prado é Enfermeiro, Sanitarisa e continua aí mandando brasa.

2 comentários:

  1. Eu tenho percebido que tem gente que vive em um mundo que não é o que eu vivo... eu que acho

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  2. Pois é. Ouvi dizer que você agora está no rádio, Estela, manda o link aí, quero ouvir. Não consigo acdessar mais meu facebook.

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