DE SOMBRA E LUZ
Na verdade, verdadeira, as luzes sempre foram uma atração. Desde
criança tinha um quê de mariposa, atraída pela luz. Se era noite e tinha uma vela
que fosse.. seu olhar para ali corria. Lembrava das noites de fazenda sem luz elétrica
no tempo da avó Matilde. Vó Matilde teve 20 filhos entre os de barriga e os de
criar e visitar a vó na fazenda era por um lado uma aventura e por outro um mudar
de era. Vó Matilde nunca pensou em modernidade. Conservava seus quitutes em
salmoura, ou no pé do pote. Era assim defumava, salgava ou deixava na base da
talha de água de beber, que ficava num canto ais fresco da cozinha e parecia
até geladeira na sua base.
Aventuras no barro, no mato, nos riachos e no curral, aquele
bando de crianças corria atazanando os adultos nos seus afazeres ou no
descanso. De dia formavam grupos por interesse ou idade e ia nadar, dar banho
em minhoca na beira do riacho, montavam jericos, mulas ou um cavalo velho e
saiam pelos caminhos em busca do que fazer. De noite, sentavam na varanda e
sempre aparecia um contador de casos. Uma lamparina iluminava o centro da roda,
e sempre seus olhos ficavam bruxuleando com a luz. Não raro perdia o fio da
meada das histórias e viajava nos movimentos da luz. Quando as estrelas piscavam num céu noturno sem
luar, a viagem da imaginação dela era mais aventureira e ousava conversar com
os extraterrestres que moravam nas estrelas.
Com a morte da vó Matilde, a fazenda recebeu eletricidade,
ordenhadeiras mecânicas e as aventuras passaram a ser de motor, barquinho que
subia o riacho, que descia a correnteza até o lago, trator que puxava uma
carreta cheia de criança dentro, mas ele já quase não visitava a fazenda, era
grande agora. Seu encantamento com luz não mudou, vivia perdendo a hora na
contemplação do por do sol e agora apreciava as nuances das sombras também. Imaginava
diálogos nas vozes dos pássaros voando para os ninhos, ria das coisas que “ouvia”
na algazarra vespertina.
Vida adulta e o olhar mariposa atraído pela luz e pelas
sombras foi desembocar na profissão de iluminadora de vitrines, de shows, e
finalmente se casou com as sombras da magia do teatro. Mas nunca perdeu o
encantamento das cores da luz do sol
Maria
Lúcia Futuro Mühlbauer
Escreve às
segundas-feiras
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