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10 agosto 2018

SEM SOSSEGO

Ernande Valentin do Prado
Coração de pão. Imagem captura com o Google, 2018.



O estômago roncava, já passava das 13 horas e não conseguira comer ainda. Dois colegas a menos no setor e todos os demônios soltos. Era um caso atrás do outro e nenhum podia esperar. Vida ou morte.
Tem dia que é assim, faz parte. Conformou-se enquanto descia a escada correndo em direção ao refeitório.
A coisa estava tão desesperadora que até a cozinha abriu exceção, geralmente não deixam ninguém entrar fora do horário das refeições. Já estavam lavando a louça do almoço e se preparando para o lanche da tarde. A cozinha, igual a enfermagem, nunca pára, neste hospital.
̶̶̶̶  Não tem mais nada, só pão...
Disse a cozinheira, do outro lado do balcão, cortando duas grossas fatias do pão caseiro feito pelas freiras da instituição.
̶  ...pode ser?
̶  Vai.
̶  Tem um resto de sopa também...
̶  Sopa não, pelo amor de Deus… só pão está ótimo.
Disse eu, tão rápido que fiquei com medo dela achar que estava sendo mal agradecido.
̶  ...só pão e café está ótimo.
O pão era quase a melhor parte do dia. Sempre delicioso.
Os serventes já estava limpando o chão. Uma mesa estava separada:
̶  Senta ali...
E quando fui sentar a sirene tocou. Era a emergência de novo. Dei uma golada na xícara de café, embrulhei o pão, coloquei no bolso e corri. Na sala de emergência uma moça, talvez vinte e tantos anos, convulsivava.
̶  30 comprimidos de uma vez...
Disse a colega, enquanto tentava estabilizar o braço esquerdo para puncionar uma veia.
̶  ...nunca vi, devia morrer de uma vez, assim deixava a gente ao menos almoçar, não acha?
̶  Acho que ela deve ter seus motivos...
Respondi, colocando a luva de borracha na mão esquerda. Depois na direita. Evitei olhar para colega:

̶  Deixa que eu faço isso. Pode preparar o carvão ativado?


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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