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22 dezembro 2017

9 CONTRABANDO - DEZ HISTÓRIAS SOBRE A INTERNAÇÃO DA MENINA DE OLHOS AMARELOS

Cavalo com tranças. Alice, 2017.
Ernande Valentin do Prado
A médica residente entrou no quarto às oito e meia, antes do lanchinho das nove. A menina de olhos amarelos ainda estava na cama, sentia muito frio para tomar banho no chuveiro gelado do quarto ou para levantar-se. A brinquedoteca ainda estava fechada, naquele dia, e ela só costumava se animar quando o local estava aberto. Nos fins de semana, quando a brinquedoteca não abria, era uma tortura para ela aguentar o tempo passar, nos outros dias até parecia que não percebia que estava no hospital, apesar das dores, das punções, dos exames, das medicações, da comida que não suportava, das muitas regras.
A médica sorria, tentando chamar atenção da menina, que não estava mesmo animada:
- Olha o que eu trouxe...
Disse a médica, enfiando a mão no bolso do jaleco e tirando jujubas coloridas e balas de gelatina em forma de ursinhos.
- ... eu não disse que ia contrabandear?
A menina sorriu sem conseguir esconder a tristeza. Estendeu as mãos para pegar os doces, parecia mais agradecida pelo gesto do que pelo doce e não queria parecer mal agradecida. Pai e mãe insistiam que deveria ser uma menina agradecida. Se não demonstrasse estar satisfeita naquele momento, mesmo sem conseguir pensar em comer o doce, certamente teria que ouvir discurso quando as médicas saíssem. Discurso essa hora, ninguém merece. Deve ter pensado.
 - Não deixe a nutricionista ver...
Disse a residente, pouco mais do que uma menina ainda, talvez sentindo-se fazendo uma travessura ao desobedecer às regras nutricionais do hospital.
- Vou esconder...
Respondeu a menina dos olhos amarelos com um sorriso cumplice na boca e um brilho diferente nos olhos, apesar do mal humor matinal.


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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