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01 dezembro 2017

8 CUIDADA - DEZ HISTÓRIAS SOBRE A INTERNAÇÃO DA MENINA DE OLHOS AMARELOS

Corações coloridos. Alice, 2017.
Ernande Valentin do Prado
A copeira encontrou o homem no corredor, em frente a brinquedoteca, quase chegando à porta do elevador. O reconheceu de imediato, pois lhe entregava a dieta todos os dias:
- Sua filha comeu hoje?
Não comeu nada, disse o homem. A mulher, de baixa estatura, parecia ainda menor com aquela touca branca na cabeça, observou o homem, mas não disse nada. Sentia-se profundamente cuidado pelo interesse legitimo da mulher em saber de sua filha, coisa que não sentia da parte da maioria das médicas e das enfermeiras.
- Com fé em Deus ela logo vai melhorar...
Disse a mulher, escondida atrás de seu carrinho cheio de bandejas, pratos, talheres.
- ... depois passo lá no quarto e levo o suplemento de morango, sei que ela gosta.
O homem ficou olhando a copeira caminhar pelo corredor empurrando aquele carrinho que parecia pesado. Sentiu os olhos encher de lagrimas, comovido pela atenção da mulher. Amargamente pensou: por que a maioria das enfermeiras não podem ser assim?
Ao entrar no quarto a filha estava chateada. A mãe teve que sair antes do esperado e não deu tempo de fazer as tranças no cabelo.
- Sei de uma pessoa que faz tranças lindas...
Disse a enfermeira, até então em pé no canto do quarto, escondida atrás de uma máscara e uma prancheta.
A menina fez que não ouviu. A enfermeira fez que não falou nada. Saiu do quarto. A menina foi para o banheiro, tomou banho, vestiu-se, penteou os cabelos insatisfeita, querendo brigar com todos que entrava no quarto, inclusive com o pai.
No corredor passou uma senhora, técnica de enfermagem da mais antigas do hospital. Entrou no quarto, disse que sabia fazer tranças, perguntou se a menina queria. Ela não respondeu, estava desgostosa demais para admitir alguma coisa, mas não resistiu quando a mulher pegou em seu cabeço e fez as tranças.
No dia da alta, antes de ir embora, a menina procurou a técnica que sabia fazer tranças, queria se despedir dela. Não achou, mas deixou um abraço. A copeira ganhou um abraço bem apertado, antes da menina seguir seu caminho pelo corredor, sem olhar para trás.


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

Partes já publicadas:

4 O Cerco       
5 Regras    
        
Partes a publicar:
         
9 Contrabando     
10 Brinquedoteca


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