Segunda-feira
pela manhã entraram no quarto uma dúzia de pessoas usando jalecos brancos.
Ficaram em volta da cama da menina de olhos amarelos. O pai na cabeceira,
acariciava seus cabelos.
Eles começaram
falando dos sintomas persistentes: olhos amarelos, pele amareladas, prurido,
náusea, vômito, dores abdominais, sorologias para hepatite A, B e C negativas.
Vez ou outra
alguém fazia uma pergunta:
- Ela ainda tá
com Náusea, pai?
Aí o pai
respondia e voltavam a falar entre si.
- Ela tá com uma
bilirrubina total de 22, o que é compatível com hepatite aguda, mas já foram
feitas sorologias para Hepatite A, B, e C e não é nenhuma delas. Uma colega
acha que é citomegalovírus...
Olha para os
rostos dos estudantes, sorri e acrescenta:
- ... ela gosta
muito de citomegalovírus, mas eu não gosto, prefiro alguma síndrome genética...
Disse a médica e
continuou falando com os internos, os residentes. Lá pelas tantas ela olha para
a menina e pergunta:
- Posso te
examinar?
A menina, até
então totalmente ignorada, olha com a cara de quem diz:
- Eu tenho
escolha?
Nos olhos, na
face, a expressão do desgosto e ao mesmo tempo a acusação, que talvez a
professora das meninas e dos meninos tenha percebido:
- Quem é você?
Quando saíram a
menina olhou para o pai, ainda com cara de assustada e perguntou:
- Pai, por que
eles falam da gente como se a gente não tivesse ouvindo?
O pai pensou em
algumas respostas, mas achou melhor não dizer nada. Sentia crescer na garganta
uma bola enorme e que ela ia sair por sua boca se falasse alguma coisa. Apenas
disse:
- Não sei, minha
filha.
[Ernande Valentin do Prado
publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
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6 Respeito
7 Comunicação Perfeita
8 Cuidada
9 Contrabando
10 Brinquedoteca