Mostrando postagens com marcador assaltos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador assaltos. Mostrar todas as postagens

04 outubro 2019

O BEM VENCE O MAL, ESPANTA O TEMPORAL

Golpo. Imagem captura pelo Google, 2019.

Ernande Valentin do Prado


O filho de um colega foi roubado no conjunto habitacional onde mora. Saia pela porta da sala e foi abordado por um sujeito de moto. Coisa corriqueira, principalmente para quem é obrigado a morar na periferia, não tem carro blindado e nem ganhar acima de 10 salários mínimos por mês.
— Quando se é assaltado, em qualquer parte do mundo, imagino que o correto é procurar uma delegacia, fazer uma queixa, estou certo?
A ideia parece ser denunciar o roubo e tentar reaver o que fora roubado?
Talvez em outras partes do mundo isso seja certo, mas no Brasil, procurar a polícia, é a coisa mais errada que se pode fazer ao ser assaltado.
— Mas calma lá, não sou eu que estou fazendo essa afirmação, que só fui assaltado, até hoje, por gente com terno e gravata, nunca por assaltantes armados.
Quem afirma e reafirma que procurar a polícia não leva a nada, é a própria polícia, verbalmente e pelas estatísticas de casos solucionados, que é quase nada. Matéria de José Eduardo Coutelle, em 2019, na revista superinteressante, em matéria intitulada, “Qual a porcentagem de crimes solucionados pela polícia no Brasil?” mostra que o custo benefício é quase nulo, como gosta de falar essa gente neoliberal.
O meu colega foi a delegacia, não por vontade própria (ele sabe que não ainda perde esse tipo de tempo), mas porque um polícia passava por ali e viu o assalto.
Na delegacia a primeira pergunta foi:
— você sabe que não adianta fazer o boletim de ocorrência (bo), só serve para as estatísticas, não sabe?
E enfatizaram:
—  quer mesmo fazer o bo?
As estatísticas mostram que de cada 100 assassinatos cometidos no país, menos de cinco são resolvidos. E, o comportamento da polícia deixa claro que nos casos de furtos, nem vão tentam solucionar, e agora nem tentam mais disfarçar a irrelevância aparente do aparato policial.
Meu colega, que não é nenhum Mané, ao sair da delegacia de polícia, foi à boca e conseguiu falar com um dos gerentes do tráfico. Em menos de meia hora conseguiu o celular de volta e a promessa de que o ladrão seria expulso do bairro.
Eficiente? Não, a “mulesta”.
E não é só neste tipo de assunto que o tráfico é mais eficiente do que certas instituições públicas. Quem nunca ouviu falar que em algumas comunidades do Rio de Janeiro é o tráfico que constrói praças, Unidades de Saúde e até socorre quando falta gás de cozinha e feijão na panela.
—  Gostando ou não da polícia, essa situação não deixa de ser lamentável.
Isso porque revela o quanto o estado e suas instituições estão “cagando e andando” para as necessidades da população. E é curioso que, com tanta ineficiência, ainda não se ouviu falar em privatizar a polícia, terceirizar ou deixa a cargo do FBI as investigações no Brasil.
—  Será que a ineficiência da polícia é falta de recurso, incapacidade ou uma estratégia pensada e repensada por quem dela se beneficia?
Estatísticas internacionais mostram que a polícia brasileira, ao mesmo tempo que é das mais ineficientes, é a que mais mata no mundo, mais mata e mais morre, isso porque, como diria D2: “Também morre quem atira”. 
As autoridades dão várias explicações do porque é assim, dizem que as leis não ajudam e coisa e tal. Mas nenhuma desculpa convence, até porque a Polícia Brasileira, e nem o judiciário, tem muito esse hábito de respeitar as leis.
As matanças constantes, comemoradas por governadores evangélicos e pastores pentecostais, entre outros genocidas, mostram que aqui existe pena de morte, basta ser pobre, e se for negro então, morre mais rápido ainda, julgado e condenado por um policial, também pobre.
Infelizmente essa história, entre várias outras, é parte da explicação do porque a população confia mais no bandido do que na polícia, embora a população não acredite que os traficantes sejam inocentes.
As aulas de história (da ditadura e depois dela) não ajudaram os estudantes a conhecer o que de fato aconteceu no Brasil, desde a invasão portuguesa e nem desde o golpe militar de 1964, esse que alguns conseguem até negar que existiu.
De 1964 até 1988, foram os militares que decidiram os rumos do Brasil. Tomaram o poder na mão grande e dirigiram o Brasil como queriam e quase sempre na ponta da baioneta. Faltavam escolas para os filhos dos trabalhadores, só tinha direito aos serviços de saúde quem tinha carteira assinada (e eram pouquíssimas pessoas), os outros só por caridade das Santas Casas. Os salários, para quem estava empregado, eram baixíssimos e quem ousasse pensar em greve era preso, torturado e alguns assassinados.
Sobravam epidemias de todo tipo de doenças, corrupção em diversas esferas, violência policial e esquadrão da morte nas grandes cidades. Qualquer tipo de pensamento, que não o oficial, era proíbo e tido como perigoso. A ditadura proibia ouvir certas músicas, ver certos filmes e até novelas, consegue imaginar viver assim?
Durante a ditadura tinha tortura, perseguição, sequestro, assassinatos e a inflação, durante o governo do último general no poder, ultrapassou 250% ao mês.
Como herança desta época absurda, temos, talvez, as instituições mais esdrúxulas do mundo, como um judiciário em que juízes fazem as leis, vivem como reis, recebem auxílio moradia, mesmo tendo casa na cidade onde trabalha.
Como se pode ver, a população confiar mais em bandido do que na polícia, não é uma coisa estranha, é uma consequência lógica do modo como a polícia e as instituições governamentais funcionam no Brasil.

[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]



Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog