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Golpo. Imagem captura pelo Google, 2019. |
Ernande
Valentin do Prado
O filho de um colega foi roubado no conjunto habitacional onde mora.
Saia pela porta da sala e foi abordado por um sujeito de moto. Coisa
corriqueira, principalmente para quem é obrigado a morar na periferia, não tem
carro blindado e nem ganhar acima de 10 salários mínimos por mês.
— Quando se é assaltado, em qualquer parte do mundo, imagino que o
correto é procurar uma delegacia, fazer uma queixa, estou certo?
A ideia parece ser denunciar o roubo e tentar reaver o que fora roubado?
Talvez em outras partes do mundo isso seja certo, mas no Brasil,
procurar a polícia, é a coisa mais errada que se pode fazer ao ser assaltado.
— Mas calma lá, não sou eu que estou fazendo essa afirmação, que só fui
assaltado, até hoje, por gente com terno e gravata, nunca por assaltantes
armados.
Quem afirma e reafirma que procurar a polícia não leva a nada, é a
própria polícia, verbalmente e pelas estatísticas de casos solucionados, que é
quase nada. Matéria
de José Eduardo Coutelle, em 2019, na
revista superinteressante, em matéria intitulada, “Qual a porcentagem de crimes
solucionados pela polícia no Brasil?” mostra que o custo benefício é quase
nulo, como gosta de falar essa gente neoliberal.
O meu colega foi a delegacia, não por vontade própria (ele sabe que não
ainda perde esse tipo de tempo), mas porque um polícia passava por ali e viu o
assalto.
Na delegacia a primeira pergunta foi:
— você sabe que não adianta fazer o boletim de ocorrência (bo), só serve
para as estatísticas, não sabe?
E enfatizaram:
— quer mesmo fazer o bo?
As estatísticas mostram que de cada 100 assassinatos cometidos no país,
menos de cinco são resolvidos. E, o comportamento da polícia deixa claro que
nos casos de furtos, nem vão tentam solucionar, e agora nem tentam mais
disfarçar a irrelevância aparente do aparato policial.
Meu colega, que não é nenhum Mané, ao sair da delegacia de polícia, foi
à boca e conseguiu falar com um dos gerentes do tráfico. Em menos de meia hora
conseguiu o celular de volta e a promessa de que o ladrão seria expulso do
bairro.
Eficiente? Não, a “mulesta”.
E não é só neste tipo de assunto que o tráfico é mais eficiente do que
certas instituições públicas. Quem nunca ouviu falar que em algumas comunidades
do Rio de Janeiro é o tráfico que constrói praças, Unidades de Saúde e até socorre
quando falta gás de cozinha e feijão na panela.
— Gostando ou não da polícia, essa situação não deixa de ser
lamentável.
Isso porque revela o quanto o estado e suas instituições estão “cagando
e andando” para as necessidades da população. E é curioso que, com tanta
ineficiência, ainda não se ouviu falar em privatizar a polícia, terceirizar ou
deixa a cargo do FBI as investigações no Brasil.
— Será que a ineficiência da polícia é falta de recurso,
incapacidade ou uma estratégia pensada e repensada por quem dela se beneficia?
Estatísticas internacionais mostram que a polícia brasileira, ao mesmo
tempo que é das mais ineficientes, é a que mais mata no mundo, mais mata e mais
morre, isso porque, como diria D2: “Também morre quem atira”.
As autoridades dão várias explicações do porque é assim, dizem que as
leis não ajudam e coisa e tal. Mas nenhuma desculpa convence, até porque a
Polícia Brasileira, e nem o judiciário, tem muito esse hábito de respeitar as
leis.
As matanças constantes, comemoradas por governadores evangélicos e
pastores pentecostais, entre outros genocidas, mostram que aqui existe pena de
morte, basta ser pobre, e se for negro então, morre mais rápido ainda, julgado
e condenado por um policial, também pobre.
Infelizmente essa história, entre várias outras, é parte da explicação
do porque a população confia mais no bandido do que na polícia, embora a
população não acredite que os traficantes sejam inocentes.
As aulas de história (da ditadura e depois dela) não ajudaram os
estudantes a conhecer o que de fato aconteceu no Brasil, desde a invasão
portuguesa e nem desde o golpe militar de 1964, esse que alguns conseguem até
negar que existiu.
De 1964 até 1988, foram os militares que decidiram os rumos do Brasil.
Tomaram o poder na mão grande e dirigiram o Brasil como queriam e quase sempre
na ponta da baioneta. Faltavam escolas para os filhos dos trabalhadores, só
tinha direito aos serviços de saúde quem tinha carteira assinada (e eram
pouquíssimas pessoas), os outros só por caridade das Santas Casas. Os salários,
para quem estava empregado, eram baixíssimos e quem ousasse pensar em greve era
preso, torturado e alguns assassinados.
Sobravam epidemias de todo tipo de doenças, corrupção em diversas
esferas, violência policial e esquadrão da morte nas grandes cidades. Qualquer
tipo de pensamento, que não o oficial, era proíbo e tido como perigoso. A
ditadura proibia ouvir certas músicas, ver certos filmes e até novelas,
consegue imaginar viver assim?
Durante a ditadura tinha tortura, perseguição, sequestro, assassinatos e
a inflação, durante o governo do último general no poder, ultrapassou 250% ao
mês.
Como herança desta época absurda, temos, talvez, as instituições mais
esdrúxulas do mundo, como um judiciário em que juízes fazem as leis, vivem como
reis, recebem auxílio moradia, mesmo tendo casa na cidade onde trabalha.
Como se pode ver, a população confiar mais em bandido do que na polícia,
não é uma coisa estranha, é uma consequência lógica do modo como a polícia e as
instituições governamentais funcionam no Brasil.
[Ernande
Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
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