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18 julho 2014

DESCONFORTO

Ernande Valentin do Prado

Um dia ele apareceu lá em casa.
Era madrugada. Acordei assustada, com medo de abrir a porta.
Mas abri.

Fazia mais de três anos que a gente não se via.
E assim, de repente ele ali: senti uma vertigem, achei que ia desmaiar.
(mas aguentei).

Sua roupa estava rasgada, retalhada, suja de sangue, terra,
Tempo
(eu acho).

Tinha os olhos fundos, avermelhados,
pele queimada, a barba grande, o cabelo sujo e desgrenhado.
Tinha marcas rochas, vermelhas, cortes, feridas.

Na boca faltavam dois dentes na frente.
O nariz torto, o braço esquerdo pendurado em uma tira de pano imunda,
que servia de tipoia.

Na coxa tinha um retalho de pano empapado de sangue, ainda bem vivo.
Não se mantinha confortável em pé,
(mas não pediu pra sentar).

Vi mágoas no corpo e na alma.
Mas o mesmo olhar verdadeiro,
(Eu acho).

Fiquei calada muito tempo.
Quando consegui falar eu disse:
- o que te aconteceu?

E ele, com toda calma,
como quem responde uma pergunta feita por uma criança, disse:
- é preciso fazer uma revolução neste país.


[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 todas às 6tas]

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