07 julho 2025

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

 

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QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

 

Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia estar implorando para que a aceitassem. Comovia seu olhar triste e desamparado. Primeiro aceitou água e comida, ficou encostada no batente da porta sem entrar. Muda, com grandes olhos desolados, aparentando um medo que só era menor que sua fome. Claro que mainha  ficou rendida a esta situação. E Camila foi conquistando aos poucos os corações e entrando nos hábitos da casa.  

Começou a engordar, a danadinha, e ficar bonita, sestrosa e a se manifestar. Mainha se encantou cada dia mais.

Um belo dia sumia a Camila, Todo mundo perturbado com a situação. Dois dias sumida, sem um ruidinho sequer!

Mais dois dias e lá veio Camila caminhando rebolando e movendo sinuosamente a cauda... com uma coisa na boca. Passou direto por todos e foi para cozinha. Saiu e voltou com outra coisa que conseguimos ver melhor. Duas gatinhas fofinhas e de olhinhos ainda fechados!

Mainha colocou o nome de uma Cefaléia e de outra Cibalena. Quem conhece a cabeça de mainha... não se surpreende com sua capacidade de nomear coisas, pessoas e gatos.

Quando criticada, mainha soltou logo que o nome da cachorra da vizinha era Ipecacuanha, então...

 Deixa pra lá! Sabe-se lá que outros   nomes e apelidos podem surgir de uma cabeça criativa? Talvez Apolinária? Zulca? Briônia? Afinalmainha  lia bulas, Vade Mécum, Matéria Médica de Homeopatia, livros indianos, maias... e gostava do som do nome e pronto!  

Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas feiras

10 março 2025

VIAGEM

 

 

                                                                      (imagem obtida por Drone em Bonito (Coordenação do Passeio feito pela Lélia)

VIAGEM

 

Viajei, viajei sim! E foi realmente daquelas viagens malucas, que só a cabeça de um ser estranho forja! Recebi de uma prima um vídeo de um passeio em Bonito, filmado por drone do alto, o pessoal sentado em boias e descendo um rio rodando pela correnteza.

 Beleza, natureza, correnteza... e visto tudo assim do alto... acionou algum gatilho na imaginação e vi o rio como vasos sanguíneos da terra com seus glóbulos a girar na corrente da vida do planeta, com as micro pessoas como as mitocôndrias, com suas capacidades de criar, mobilizar e transformas energia! Muito loucos estes pensamentos, mas foram reveladores dos sentimentos guardados em algum canto do meu empoeirado e desarrumado cérebro (me prometi catalogar e organizar estes departamentos de informações que aparecem pela vida afora... embora duvide ser capaz disto, mas...).

 Então, entrei nesta viagem imaginando como seriam as trocas de oxigênio destas células que rodavam nas boias, seria a sensação de pertencimento (serem realmente natureza) que oxigenaria o entorno e cada uma receberia sua “cota de clorofila?

Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

 Escreve às segundas feiras

03 março 2025

E CHEGOU... CARNAVAL... E ELA NÃO...

 

 


ECHEGOU...CARNAVAL...E ELA NÃO

A verdade era que desfilar numa Escola de Samba pela primeira vez era uma emoção indescritível, diria mesmo viciante! Calor, medo de errar, ansiedade de desempenho impecável, insegurança de quem não é profissional do samba... tudo junto e misturado e uma grande alegria de fazer parte do conjunto, do brilho do enredo, de ter as batidas da “bateria” no corpo... realmente indescritível.

 Já havia participado da euforia na arquibancada com uns amigos, os mesmo que agora me colocaram no meio do desfile. Sambar, pular e brincar carnaval nos Blocos sempre foi um momento feliz na minha vida carnavalesca. Mas, estar nos ensaios, desfilar estava sendo uma coisa bem maior, misturando alegria e responsabilidade. Podem rir: o que uma figura “figurante”, dentro de uma Ala, faria de diferença? Mas para mim era o compromisso de diversão, arte e capacidade de estar dentro da coreografia sem errar nem atrapalhar os companheiros.

Mas por fim, deixei a cabeça de lado, e literalmente entrei na “Escola”, adereços da Ala, coreografia no sangue, ritmo na alma. Cheguei à Apoteose! Literalmente.

O abraço e os sacolejos entre os amigos, o beijo na boca da colega do lado (susto!) e o coração aos pulos explodindo de alegria: quase infarto! Só não sei se serei capaz de repetir o feito!

Sentei no meio fio: sem fôlego, sem pernas, lavada em suor, emocionada, feliz e sentindo que sou uma sobrevivente! Valeu, bastou, celebrou minha estreia e encerrou minha carreira aos 75 anos.

“Doravante só nos degraus da arquibancada e olhe lá!”.

(Acho mesmo que vou curtir em casa, vendo pela TV, com meu companheiro, um copo de mate gelado e o cachorro dormindo aos nossos pés).

                                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas feiras


18 novembro 2024

SÃO FEITOS DE PAPEL

 

 






SÃO FEITOS DE PAPEL

 

 Muitas vezes pensamos que trabalhar com escultura passa pela madeira, pedra, ferro, e nem nos damos conta que é possível uso de matérias primas mais simples e perecíveis. Tive uma conhecida que esculpia em frutas, fazia mesas de festas de criança com melancias como barco, uvas e bananas como marinheiros, e maçãs como ondas do mar. Ela uma vez, me mostrou todo um sítio com casa, cercas, árvores e canteiros feitos com massinha. De outra vez eram esculturas em chocolate as belezas apresentadas.

 Mas ver as imagens da imigração alemã em Petrópolis contextualizada e apresentada em figuras de papel... com as texturas de pele, cabelo, folhas em diferentes formas do papel... foi um deslumbre. E saber que não são duráveis como outros materiais, há traças e cupins aguardando estas iguarias ao longo do tempo!

Foi numa exposição chamada Coragem e Fé, na Casa da Princesa Isabel, bem na esquina em frente da Catedral que tivemos a oportunidade de ver este trabalho de toda uma família. Mãe e irmãos pesquisam e confeccionam as esculturas, quadros em relevo e trazem a história do início da cidade para o presente.

Foi um deslumbramento poder estar em contato com a imagem de D Pedro I baixinho e jovem e D. Pedro II em tamanho natural com sua altura de  1,92m com sua barba clara e abundante numa textura de papel que encaracola! Uma árvore feita com fatias de rolos de papelão com um jacu  e suas penas pousado num galho, uma galinha com pintinhos arrepiados do outro lado da sala. E ver a sombra dos textos de jornal na pele dos porquinhos... a trança da menina que os alimenta. Ah! Engenhosidade e arte, trabalho firme de criação e manutenção pois a deterioração acontece e a “vida” destas figuras quando muito ultrapassa 20 anos. Mas que visita, as  guarda para sempre.

 

                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                                                                          Escreve às segundas feiras

11 novembro 2024

DO BEM E DO BELO

                              

 

                                                               DO BEM E DO BELO

Algumas vezes há tensão e urgência nas decisões, praticidade nas ações, responsabilidade nas atitudes que nem alcançamos mais que o suportar a crise aqui e agora. Depois... bom, depois ruminamos o que foi e ressignificamos o feito. A semana passada foi um exemplo destas duas faces de nós mesmo, primeiro o pedido de socorro da vizinha e o marido havia acabado de morrer, uma ação invertida, visto que o que fizemos foi estar ali. A seguir um encontro entre amigos num lugar de beleza ímpar, e a possibilidade de estar dentro desta foto do por do sol, na tranquilidade das águas salgadas, na sincronicidade de movimentos fluidos, num espaço e instante de afeto e beleza que afetou a todos os do barco e da praia.

Um intenso sentimento de gratidão e irmandade que suscitou em todos o desejo de retornar e viver mais vezes esta harmonia, que gerou na prática a organização de novos encontros entre velhos companheiros de jornada. E velhos, sim de muitos anos se encontrando sempre que possível... desde alguns anos antes da formatura em 1976. Velhos companheiros sim, mas ainda com piadas e implicâncias dos tempos de estudos, apelidos, comentários, brincadeiras rearranjadas e adaptadas ao novo/velho modo de ser. Gozações sobre os joelhos doloridos, sobre as panças aumentadas, sobre rugas e celulites próprias da vida depois dos setenta, mas com um espírito folgazão e propostas divertidas de “bater bafo” com bulas de remédio, de brindar com chás, de trocar indicações de médicos e contatos  de nutricionistas.

A saber que incluindo as perdas já acontecidas (algumas de longa data e outras bem recentes) a beleza do elo entre estes companheiros rivaliza com a beleza do por do sol.

Ô sorte ser parte desta beleza!

 

 

                                                                                   Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

                                                                                                                                          Escreve às segundas feiras

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