para Eymard e Amélia.
Ideias 1
ando confuso, confesso. gostei do Bergoglio. pareceu-me gente boa. embora sei que é imagem pública - melhorar a imagem da firma. jogo de espelhos como outros. mas gostei. tem que continuar gostando. se não, andamos só pelo dark side. e a vida se torna algo ridículo. confuso e sem sentido.
mas quando ele faz as missas no coração do vaticano fico estranhando. império? edificações grandiosas para conter possíveis dúvidas e dissidências. dourados que impõem castas. não a glória do deus e seus santos. mas a glória dos que decidem, mandam, lucram, e ostentam.
os poucos anos do papado serão poucos mesmo. e depois do menino argentino de 76 anos, o que virá?
Ideias 2
vejo os médicos, colegas (colegas?) gordos, barbudos, inchados de poderes nímios, em evento sobre Espiritualidade Saúde e tal. A abertura é feita por um dos tais. terno, gravata, barriga de cobiça sempre faminta, citando estudos, pesquisas, e comprovações para convencimento da utilidade - sim, utilidade - dessa dimensão.
os acadêmicos e gestores da saúde - e talvez estudantes e profissionais da ponta também - perguntam da utilidade das coisas do espiritual. lado escuro, desconhecido, ridículo, superstição, droga opiácea, sabe-se lá o que mais.
quem sabe as formalidades apaguem o poder da visão? os ternos, vestidos longos, o olhar poderoso desses médicos nos cargos. não os que admiro - que realmente se importam e constroem junto com os doentes e familiares, criam trilhas de espanto, dor, raiva, revolta, e redenção.
Idéias 3
e, acabando o caos pessoal que me inquieta, leio contos do Mia Couto, biólogo moçambicano - especialista em meio ambiente - que nunca deixou de trabalhar na área biológica apesar da fama crescente e as viagens e tal.
em um dos contos iniciais do Mia, um jovem pastor morre ao pisar uma mina terrestre, dessas semeadas pelos exércitos e pelos bandos de bandidos. o final, esperado, é a morte e a redenção.
a morte do menino Azarias é um voo, é flutuar, é a descida à terra do pássaro mítico de fogo, Ndlati.
esse espírito é o que seguirei. porque hoje, apesar dos poderes, é possível tecer e desenhar sendas próprias. e sonhar e viver.
Tudo isso está mudando, meu querido amigo. E se queremos que mude logo, comecemos por nós mesmos! E quando a espiritualidade está dentro, não importa se é terno ou bermuda o que está fora.
ResponderExcluirComo sempre, tens razão.
ExcluirÉ bem possível que a gravata ou o manto dourado os impeça de voar. Então pagam passagens de primeira classe para ver a cor do céu. Muito bom o texto.
ResponderExcluirCaro ululante, como disse no FB acho que nem no avião eles olham pelas janelas. Mas o interessante é que as coisas vão se mexendo de forma imperceptível. Apesar das vaidades e hipocrisias esperadas há algumas mudanças de coração inesperadas que nos trazem esperança.
ExcluirQuerido Julio, confesso que não tenho muita ideia do que está falando objetivamente. Mas como dizia aos meus alunos, que ficavam atordoados com isso e me achando ora um gênio ora um louco incompetente (para maioria), há certas coisas que não é necessário entender mesmo, basta sentir. Portanto é um texto apropriado para falar de espiritualidade, pois está no campo das coisas que não precisa necessariamente ser entendida, mas se não for sentida, aí não tem “utilidade”. Por isso sempre achei estranho essa busca de comprovação epidemiológica dos benefícios de uma oração, até porque quem tem fé não busca comprovação e quem busca comprovação geralmente não tem fé ou talvez eu que esteja tão longe disso tudo.
ResponderExcluirQuerido Ernande. O Valery, um poeta francês, dizia que sem o invisível teríamos muitos vazios de vida, rs. "O que seria de nós sem o invisível?"
ExcluirExplicar o invisível é só uma aproximação. Imagine uma cebola cortada. Ou uma espiral. Nunca chegaremos ao centro pela linguagem comum, pela ideia escrita.
Imagine um beijo longo na pessoa que você mais amou na vida (ou ama). Descrever o beijo é impossível. Só aproximações.
As ideias jogadas neste texto são isso: ideias jogadas. Algo confusas, propositadamente.
Por outro lado, certos processos interiores (amadurecimento, evolução, crescimento, circularidade) também podem nos levar a "compreensão melhor", só que ela será sem palavras.
A poesia, neste caso, é só uma aproximação. A qualidade (sim, há qualidades de poesia) depende da aproximação íntima do poeta com o compreendido. Essa intimidade não é racional, nem sentimental, é algo extático e meta-racional.
Este é o Júlio... este olhar irônico... que desconstrói... e que constrói.
ResponderExcluira ironia era a arma dos mestres do zen budismo. na ironia está contida a perplexidade. o absurdo. aquilo que quebra o pensar linear. mas ironia às vezes é mal compreendida. chega a ferir susceptibilidades. chega a distanciar pessoas. quem sabe um dia elas percebam a dimensão libertadora da ruptura de totens.
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