Maria Amélia Mano
Para
o telefone que toca
Para
a água lá na poça
Para
a mesa que vai ser posta
Para
você o que você gosta: diariamente
Nando
Reis
Em viagem, queremos a surpresa e a novidade. Mas faz parte da
aventura, também, para mim, tanto fazer amigos quanto rever amigos, tanto
conhecer histórias novas quanto revisitar antigas, tanto aprender outros
roteiros previstos e não previstos quanto repetir caminhos. Repetir? Rever?
Sim! Jeitos de curtir o desconhecido e o familiar. Jeitos de tornar o quarto de
hotel, um lar, mesmo que temporário e enfeitar de flores, se for permitido.
Assim é que me encanto com o “bom dia” da Ângela e da Fábia
de Olinda e peço, no café da manhã, o mesmo de sempre. Sei que sentirei falta
da festa dos passarinhos, todas as manhãs, em João Pessoa e que saberei um
pouco do taxista tímido de Goiás. Sei que posso, talvez, reencontrar o artesão
que conta a sua história. Sei que abraçarei outras rotinas como abraço as novas
pessoas que conheço na estrada e que se tornam parceiras de viagem.
A novidade e a surpresa estão também no corriqueiro que se
torna especial e que, de alguma forma, traz um sentido, um senso de
pertencimento ao mundo e ao caminho que nos acolhe, nos reconhece e nos
proporciona experiências diferentes a cada dia. Dia que se espanta com o
deslumbramento de cenas comuns, aparentemente iguais, conhecidas, vividas, mas
que produzem sempre uma ternura mágica de primeira vez.
Voltar aos mesmos cafés e livrarias? Banhar-se na mesma
praia? Sim! Dá até para sentir saudades como se aquele lugar distante e recente
fosse uma segunda casa que aprendemos a morar e cuidar. Nossos olhares nunca
enxergam as mesmas cores e os sabores antigos sempre nos trazem uma doçura nova
de momento bom que ainda há de passar. Nunca somos os mesmos e nunca devemos
ser. Nunca deixamos de ser mistério e descoberta.
Para o dançarino que repete o mesmo espetáculo há sempre o
arrepio da estreia. Cada dia-palco é diferente. Para o professor, cada aula é
única, mesmo sendo a mesma. Porque as grandes surpresas das viagens, mais que
as aventuras e os lugares inéditos, são as pessoas e somos nós e é o que
fazemos de nós quando nos encontramos, quando nos reencontramos. Porque a vida
é nova em tudo de novo que buscamos dentro de nós e não fora de nós.
Entender e valorizar as experiências simples, banais, iguais
também nos modifica, nos aprimora, nos encanta, no humaniza, nos iguala, nos
fortalece. Que a gente deixe entrar os sabores de ontem e de hoje. Pássaros,
pessoas, árvores e as ruas de sempre. As vozes amigas. O mesmo colo macio de cheiro
que nos embala e afaga. O carinho, o cafuné, aquele mesmo, o que nos faz dormir
e sonhar sonhos novos no velho sofá da sala.
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