08 junho 2017

A SIMPLICIDADE NA COMPAIXÃO


Imagem adaptadas da internet, 2017.
Eymard Mourão Vasconcelos

O trabalho em saúde está sempre nos colocando a frente de pessoas em sofrimento. Isso é pesado, mas também uma oportunidade. Oportunidade de experimentar profundamente a compaixão.
Viver a experiência da compaixão. De repente, o outro que sofre, na nossa frente, não é mais um coitado. Ou uma pessoa separada de nós. Passamos a percebê-la como parte de nós mesmos. Choramos com ela. Sofremos juntos. E envolvemos em sua ansiedade de busca por saídas. É quebrado nosso temor de perda de espaço e conquistas pessoais pela entrega ao que flui desse encontro, desapegando-se de outras preocupações.
Na compaixão não competimos e não julgamos. Aceitamos e reverenciamos o que vem do encontro, dialogando com o que somos.  E o que passamos a ser, a partir da experiência da compaixão, nos surpreende.
A compaixão unifica a complexidade das relações de cuidado. As várias teorias e demandas profissionais se integram na força da dinâmica emocionada da compaixão. Experimentamos uma simplicidade. O que verdadeiramente importa, naquele momento, fica claro. Outras necessidades e outras perspectivas de compreensão serão depois demandadas a partir do vínculo que começa nessa experiência.
O encontro com quem sofre inicialmente nos comove. Mas também nos encanta, pois encontramos garra de superação, carinho, modos surpreendentes de levar a vida, solidariedade e criatividade. Entramos em contato com a capacidade de transcender presente em pessoas aparentemente tão limitadas. Conhecemos potência presente no ser humano.
Assim, o trabalho em saúde cria fortes oportunidades de uma experiência que pode alastrar para o restante de nossa vida. A experiência do amor. Ele pode ser espaço de treinamento do manter-se no amor mesmo nas dificuldades, que são tão grandes nas instituições de saúde e nos tumultos de nossa mente.  
O amor aprendido com desconhecidos, que se fizeram próximos apenas por nosso trabalho profissional, reverte para a relação com nossos romances, amigos, familiares e companheiros de militância, que muitas vezes são utilitárias e superficiais. Ou marcadas por cobranças e propostas teóricas contraditórias. O amor por quem não temos o dever de amar, nos faz conhecer o amor.
A força da experiência da simplicidade trazida pelo amor, superando a complexidade das relações humanas, cria uma referência fundamental para a reorganização de nosso viver. Aprendemos que o amor é a dinâmica essencial de todo relacionamento que se quer verdadeiro. O resto é secundário.  No relacionamento mais casual ao mais íntimo, no mais antagônico ao mais simpático e no bem presencial ao totalmente virtual, podemos estar inteiros e unificados. Precisamos de estudos críticos, pesquisas científicas, interdisciplinaridade e trabalhos em grupo, mas regidos, antes de tudo, por amor.

Texto elaborado por Eymard Vasconcelos a partir de reflexão de Laurence Freeman, da Comunidade Mundial de Meditação Cristã (fonte: http://www.wccm.org.br/leitura-laurence-freeman-osb/608-perdao-e-compaixao-170604 ), com a finalidade de torná-la mais adequada à sua própria jornada de aprendizagem e aos desafios de seu campo profissional.

[Eymard Mourão Vasconcelos publica no Rua Balsa das 10 às 5tas-feiras]

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