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Imagem adaptadas da internet, 2017. |
Eymard Mourão
Vasconcelos
O trabalho em saúde está sempre nos
colocando a frente de pessoas em sofrimento. Isso é pesado, mas também uma
oportunidade. Oportunidade de experimentar profundamente a compaixão.
Viver a experiência da compaixão. De
repente, o outro que sofre, na nossa frente, não é mais um coitado. Ou uma
pessoa separada de nós. Passamos a percebê-la como parte de nós mesmos.
Choramos com ela. Sofremos juntos. E envolvemos em sua ansiedade de busca por
saídas. É quebrado nosso temor de perda de espaço e conquistas pessoais pela
entrega ao que flui desse encontro, desapegando-se de outras preocupações.
Na compaixão não competimos e não
julgamos. Aceitamos e reverenciamos o que vem do encontro, dialogando com o que
somos. E o que passamos a ser, a partir da experiência da compaixão, nos
surpreende.
A compaixão unifica a complexidade das
relações de cuidado. As várias teorias e demandas profissionais se integram na
força da dinâmica emocionada da compaixão. Experimentamos uma simplicidade. O
que verdadeiramente importa, naquele momento, fica claro. Outras necessidades e
outras perspectivas de compreensão serão depois demandadas a partir do vínculo
que começa nessa experiência.
O encontro com quem sofre inicialmente
nos comove. Mas também nos encanta, pois encontramos garra de superação,
carinho, modos surpreendentes de levar a vida, solidariedade e criatividade.
Entramos em contato com a capacidade de transcender presente em pessoas
aparentemente tão limitadas. Conhecemos potência presente no ser humano.
Assim, o trabalho em saúde cria fortes
oportunidades de uma experiência que pode alastrar para o restante de nossa
vida. A experiência do amor. Ele pode ser espaço de treinamento do manter-se no
amor mesmo nas dificuldades, que são tão grandes nas instituições de saúde e
nos tumultos de nossa mente.
O amor aprendido com desconhecidos, que
se fizeram próximos apenas por nosso trabalho profissional, reverte para a
relação com nossos romances, amigos, familiares e companheiros de militância,
que muitas vezes são utilitárias e superficiais. Ou marcadas por cobranças e
propostas teóricas contraditórias. O amor por quem não temos o dever de amar,
nos faz conhecer o amor.
A força da experiência da simplicidade trazida
pelo amor, superando a complexidade das relações humanas, cria uma referência
fundamental para a reorganização de nosso viver. Aprendemos que o amor é a
dinâmica essencial de todo relacionamento que se quer verdadeiro. O resto é
secundário. No relacionamento mais casual ao mais íntimo, no mais
antagônico ao mais simpático e no bem presencial ao totalmente virtual, podemos
estar inteiros e unificados. Precisamos de estudos críticos, pesquisas
científicas, interdisciplinaridade e trabalhos em grupo, mas regidos, antes de
tudo, por amor.
Texto elaborado por Eymard Vasconcelos
a partir de reflexão de Laurence Freeman, da Comunidade Mundial de Meditação
Cristã (fonte: http://www.wccm.org.br/leitura-laurence-freeman-osb/608-perdao-e-compaixao-170604 ),
com a finalidade de torná-la mais adequada à sua própria jornada de
aprendizagem e aos desafios de seu campo profissional.
[Eymard Mourão Vasconcelos publica no Rua Balsa das 10 às 5tas-feiras]
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