Maria Amélia Mano
Justificar tramas, perdoar trapaças, amparar trampas,
se orgulhar dos truques, preparar trotes, apostar nos tratos e tratados, apoiar
tribos estranhas, turmas que destroçam razões, fazer troça do que é certo
porque tudo se justifica. O tridente na garganta, a trégua negociada, as trocas
de favores, a troça dos que estão de fora, trêmulos, os que temem perder o
poder.
E vem o silêncio, oásis de um deserto e alguém de
perto fala de respeito e ética como fala do dia que nasce, tranquilo.
Turbulência. Fratura. Retorno. Resgate. E em um olhar, uma palavra, um sorriso,
o mundo volta a fazer sentido. Esperança. Alguém fala do que é certo e parece
poesia, parece canção no vento, ao vento. E o vento é morno e me abraça, me
acaricia e cobre de beijos.
Agradeço pela tarde terna, pela fala doce que
me ampara o olhar cheio de esperança. Não há que justificar tramas, trapaças,
trampas, truques, trotes, tridentes, troças, troços, tratos e tratados de
tribos estranhas. Não há. Perdemos o poder, não importa. Não somos famosos,
importa menos. Dinheiro é bom, mas não compra nossa alma. Vaidades seduzem mas
aprisionam. Somos livres.
O que importa é essa tarde entre amigos que
confiam na beleza, no carinho, no sonho de viagens distantes para falar com
mágicos, homens e mulheres simples que cuidam ao dançar e cantar. Sagrado das
águas e matas. Terreiros. O que importa é o vento que me abraçou quando se
falou de verdade e essência. O vento que ainda me abraça, na memória do toque
de um julho frio que me enche de amor com cheiro de ervas de cuidar.
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