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Imagem captada na internet, 2017. |
Ernande Valentin do Prado
Existe um movimento
interessante, da parte de consumidores conscientes (e provavelmente refinados),
que exigi carne em suas mesas, porém não aceitam a crueldade contra os animais.
Segundo eles os animais devem ser abatidos com humanidade, com o respeito que a
vida merece simplesmente por ser vida.
Para esses consumidores
é importante saber que seu alimento não sofreu na hora do sacrifício, talvez
com isso se sintam menos desconfortáveis diante do pecado da gula (não sei bem).
Para atender essa gente sensível, exigente e merecedora de todas as
considerações simplesmente por serem gente preocupada com o bem-estar animal, foram
pensados e desenvolvidos uma série de procedimentos (políticas públicas) que
garantem que os animais não sofrem na hora da morte. O que podem confirmar
degustando uma carne em que não se percebe, no sabor e na suculência o estresse,
o medo que, sem esses cuidados, ficariam impregnado nas entranhas da carne.
Para conseguir esses
resultados os cuidados devem ser tomados não apenas na hora do abete. O transporte
entre o criadouro e o frigorífico têm toda uma normatização que deve ser
cumprida com rigor, o que os especialistas garantem dar resultados
surpreendentes. Para garantir que os bois não fiquem nervosos, com medo e com estresse
acima do tolerável, é importante um trabalho limpo, especializado, sem
correria, sem gritos, sem violência.
Para atender o rigor
das normas de humanização na criação e abate de animais, os currais estão se
modernizando, passando por reformas e adaptações importantes. Os novos currais
e locais de estada dos animais, antes do abate, seguem alguns princípios
arquitetônicos: são ambientes sem pontas, nem quinas que possam ferir os
bichos, preferencialmente circulares, parece que os bovinos ficam estressados
em ambientes quadrados. Em alguns currais até equipamentos para música ambiente
são instalados. Dizem que os bichos ficam mais calmos com música clássica, o rock
pesado os deixam irritados.
Os boiadeiros não usam
mais de violência ou de instrumentos corto-contusos para direcionar os bois para
onde desejam que vá, mas panos, assim os conduzem em direção aos caminhões que
os levam para o matadouro, sem pressa, sem correria. Para conseguir essas fineses
dos peões, sempre tão grossos em outros tempos, foram investidos tempo e
dinheiro em capacitações e treinamentos permanentes (educação permanente
significativa).
Do curral das fazendas
produtoras os bois são transportados com todos os cuidados em veículos
espaçosos, evitando a superlotação, de modo que os animais não fiquem
apertados, como ficam os seres humanos em transportes públicos, por exemplo.
Deste modo evita-se estressar os bichinhos, ferir e magoa-los. Os caminhões são
utilizados no máximo por cinco anos, manutenção sempre em dia: freios
funcionando perfeitamente, tacógrafos que acompanham a velocidade máxima dos
caminhões e registram se o motorista der freadas bruscas ou desnecessárias, em
linha reta por exemplo, e se entra nas curvas em alta velocidade, o que provoca
desconforto e coloca em risco de fraturas e ferimentos os bovinos. No ponto
final da viagem, ou nos pontos intermediários, os bichos recebem água, banho e
são descarregados com todo o cuidado, respeitando o tempo de cada um, sem
grito, sem afobação, sem corre-corre. E mesmo assim respeitando o tempo
estipulado para o trajeto.
Claro, para conseguir
esse resultado, como no caso dos Piões da fazenda, muito se investiu em
capacitações, em educação permanente, em monitorização, acompanhamentos
constantes, melhoria de vencimentos e premiações. Os profissionais não passam
mais do que sessenta dias sem uma atividade de sensibilização, para que
continuem compreendendo a importância da humanização no manejo com os animais.
Quem não demonstra perfil para a função é transferido de setor e até
“descontinuados” do serviço.
As políticas públicas do setor afirmam que o
manejo incorreto dos bovinos pode causar medo e sofrimento desnecessários, que
são evidenciados com fuga excessiva, comportamento negativo, coices, golpes
contra cercas e portas, ferimentos, tais como contusões, lacerações, chifres
quebrados e fraturas de chifre e rabos, pernas, comportamento perturbado, entre
outras. E é exatamente esse sofrimento que se pretende evitar com todas essas
medidas de humanização do setor de carnes.
“Essas normas foram
estabelecidas para garantir proteção para as diferentes espécies de animais de
açougue, objetivando”, claro, como não poderia deixar de ser, “o bem-estar
animal como seres vivos e consequentemente”, claro, como não poderia deixar de
ser (porque ninguém é de ferro) “uma carne de melhor qualidade e vida útil[1]”.
Enquanto isso: a médica do Rio de Janeiro, funcionária de convênio de saúde,
já com acusações de negligência e violência contra seres humanos no decorrer de
suas funções, não prestou atendimento a menino de um ano, que provavelmente em
decorrência disso morreu, disse em depoimento na delegacia:
- "Não estou
arrependida porque não fiz nada de errado do ponto de vista do código de ética
médico[2]”.
PS. Não é a ideia de profissionais de
saúde cuidando de gente, pelo simples fato de ser gente, que parece estar fora
de moda, mas a própria ideia de humanidade, de nação, que parece não se
encaixar mais nestes tempos.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]
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