08 maio 2018

PARECÊNCIAS


Maria Amélia Mano

Me disseram que meus olhos eram iguais aos seus, mas não são. Seus olhos são mais redondos, mais escuros, espantados e mágicos.

Depois, disseram que minhas mãos eram iguais às suas: magras, pequenas e delicadas. E concordei. Elas são iguais, mas menores, mais frágeis e o tempo e a profissão me deram menos calos. Também tenho menos capacidade de fazer germinar e florescer verdes na terra.

Não tenho sua cabeça redondinha, mas tenho sua cor morena e sim, algumas constelações de sinais no peito e nas costas, marcas de um sol ou de muitos sóis de praias e sertões.

Mas o que mais gosto de ter seu, confesso, meu pai, é esse calinho no dedo mindinho do pé, dos dois pés. Esse que é prova de estrada, marca de caminho, genética de andarilhos e retirantes.

Esses calinhos, só nossos, meu velho, é o nosso mais verdadeiro DNA. Quer dizer que nossos passos se parecem, que temos o mesmo jeito meio errado de colocar o pé no chão.

Quando em carinho, você mexe nos meus pés e encontra os calos e diz, sempre, que tem também, nos mesmos dedos, sinto que sou mais sua filha.

Sinto que você estará sempre comigo, nesse andar, nesse pousar, nesse voar e nesses mindinhos.

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