Maria Amélia Mano
Me disseram que meus
olhos eram iguais aos seus, mas não são. Seus olhos são mais redondos, mais
escuros, espantados e mágicos.
Depois, disseram que
minhas mãos eram iguais às suas: magras, pequenas e delicadas. E concordei.
Elas são iguais, mas menores, mais frágeis e o tempo e a profissão me deram
menos calos. Também tenho menos capacidade de fazer germinar e florescer verdes
na terra.
Não tenho sua cabeça
redondinha, mas tenho sua cor morena e sim, algumas constelações de sinais no
peito e nas costas, marcas de um sol ou de muitos sóis de praias e sertões.
Mas o que mais gosto de
ter seu, confesso, meu pai, é esse calinho no dedo mindinho do pé, dos dois pés.
Esse que é prova de estrada, marca de caminho, genética de andarilhos e
retirantes.
Esses calinhos, só
nossos, meu velho, é o nosso mais verdadeiro DNA. Quer dizer que nossos passos
se parecem, que temos o mesmo jeito meio errado de colocar o pé no chão.
Quando em carinho, você mexe
nos meus pés e encontra os calos e diz, sempre, que tem
também, nos mesmos dedos, sinto que sou mais sua filha.
Sinto que você estará
sempre comigo, nesse andar, nesse pousar, nesse voar e nesses mindinhos.
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